Folha de S. Paulo


Preferida de Scioli para a Economia diz que ajuste argentino não é urgente

Em março de 2014, a titular da economia da província de Buenos Aires, Silvina Batakis, levou uma pedrada na perna, lançada por furiosos professores em greve.

Ela era parte de uma equipe enviada pelo governador Daniel Scioli para negociar. E, diante do impasse, acabou hostilizada.

No dia seguinte, Silvina recorreu à metáfora do futebol –tal qual costuma fazer seu chefe– para pedir calma e ser porta-voz do recado amargo do governador. "Coloquem a bola no chão, vamos olhar adiante", disse. "Não temos condições de oferecer mais do que já oferecemos".

Antes mesmo que se confirmasse a "grande final", como o hoje candidato a presidente Daniel Scioli chama o segundo turno da eleição argentina, Silvina foi anunciada como sua ministra da Economia, caso ele chegue à Casa Rosada.

Na equipe de Scioli desde 2008, quando entrou para o governo como assistente de Nicolás Scioli (o irmão do governador) em um órgão ambiental, Silvina tem como principal ativo a confiança do chefe.

Durante a campanha, dois economistas veteranos, Miguel Bein e Mário Blejer, foram cotados para assumir o ministério. Mas a fidelidade de Silvina foi eleita por Scioli.

Gabinete do Governador da Província de Buenos Aires - 30.abr.2015/Reuters
Silvina Batakis, que assumirá o Ministério da Economia da Argentina se Scioli se eleger
Silvina Batakis, que assumirá o Ministério da Economia da Argentina se Scioli se eleger

Pouco conhecida no mercado financeiro, menos ainda na academia, Silvina Batakis, 46, formada pela Universidade Nacional de La Plata com mestrado em economia ambiental pela universidade inglesa de York, poderá assumir em dezembro o principal ministério do novo governo argentino.

Economistas são unânimes em dizer que o próximo ministro terá que conduzir correções difíceis e impopulares na Argentina.

Controlar as despesas públicas e tirar o país do isolamento significam menos gastos na área social, um acordo os credores externos e a desvalorização do peso, três medidas rejeitadas por Cristina Kirchner.

Silvina diz que o ajuste não é urgente, repetindo o mantra da correção com gradualismo emanado pelo chefe.

Em entrevista recente, antes de ser indicada ao cargo, defendeu a maior intervenção do Estado na economia, o que a situa no espectro heterodoxo ou desenvolvimentista do pensamento econômico.

Mas na prática Silvina mostrou-se uma linha dura com as finanças públicas.

Quando o governo de Cristina reduziu os repasses para a província, em 2012, ela acionou novos impostos e aumentou a arrecadação. No ano passado, eliminou o déficit fiscal. A má notícia é que isso levou a província à mais elevada carga tributária do país.

"Os países que têm as menores cargas tributárias são os mais pobres e os mais desiguais", justificou Silvina, acrescentando que aumentou o imposto dos mais ricos.

Filha de uma ex-vereadora peronista e neta de imigrantes que vieram da Grécia e da Alemanha, ela nasceu na Terra do Fogo e morou na província do Chaco (norte). Costuma dizer que a experiência de vida a ajuda a entender a realidade fora do gabinete.

A eventual dona do caixa terá que lidar, porém, com uma realidade difícil dentro do gabinete.

Um déficit fiscal que hoje supera 6% do PIB e promessas feitas pelo chefe durante a campanha eleitoral: redução de impostos sobre os salários e dos tributos cobrados de aposentados, beneficiários dos programas sociais e dos exportadores de alimentos.

Silvina dará conta? É a maior dúvida.

Na última semana, após o primeiro turno, especulou-se que Scioli teria oferecido a vaga a outro mais experiente, o ex-ministro Roberto Lavagna (2002-2005), em troca do apoio do terceiro colocado Sergio Massa. Lavagna disse que recusou e o assunto não prosperou.

Diferentemente de Domingo Cavallo ou do próprio Lavagna, cujos nomes acabaram tão conhecidos quanto os dos presidentes a que serviram, Silvina parece preferir o protagonismo de Scioli, a quem chama de governador.

No seu escritório, segundo revelou o "La Nación", só outras duas figuras - além da do chefe– teriam espaço para retratos na parede: o herói da independência San Martín e Carlitos Tevez, craque do seu time do coração, o Boca Juniors.


Endereço da página: