Folha de S. Paulo


Partido conservador do presidente Erdogan vence legislativas na Turquia

Osman Orsal/Reuters
People wave flags and hold a portrait of Turkish President Tayyip Erdogan outside the AK Party headquarters in Istanbul, Turkey November 1, 2015. Turks went to the polls in a snap parliamentary election on Sunday under the shadow of mounting internal bloodshed and economic worries, a vote that could determine the trajectory of the polarised country and of President Tayyip Erdogan. The vote is the second in five months, after the AK Party founded by Erdogan lost in June the single-party governing majority it has enjoyed since first coming to power in 2002. REUTERS/Osman Orsal ORG XMIT: CVI11135
Pessoas seguram bandeiras e um retrato de Erdogan em frente à sede do Partido AK, em Istambul

O AKP, partido islâmico do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições legislativas antecipadas deste domingo (1º) e voltará a ter a maioria das cadeiras no Parlamento.

Com 99,1% das urnas apuradas até a conclusão desta edição, o governista Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) conseguiu 49,4% dos votos e 316 cadeiras de um total de 550, informou a agência estatal Anadolu.

O número supõe uma revanche de Erdogan, 61, cujo partido perdeu nas eleições de 7 de junho a maioria absoluta que possuiu por 13 anos –apesar de ter sido o primeiro, com 40,6% dos votos– e surpreendeu até o partido.

"Esse é um sucesso que superou as nossas expectativas", disse um alto funcionário do AKP à agência Reuters.

O revés de junho trouxe à tona a ambição do chefe de Estado de impor ao país uma "superpresidência", com prerrogativas reforçadas.

Erdogan fez tudo o que era possível para atrapalhar as negociações de coalizão do governo e então decidiu convocar eleições antecipadas.

No entanto, para levar a cabo a mudança na Constituição, que transformaria sua Presidência, hoje cerimonial, em executiva, seriam necessários três quintos do Parlamento, o que não conquistou nas urnas.

O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata) ficou em segundo lugar, com 25,4%, seguido pelo Partido da Ação Nacionalista (MHP, direita), com 12%, que melhorou seu desempenho em relação à eleição anterior.

Depois de uma entrada triunfal na câmara em junho passado, o Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo) teve um mau resultado: angariou 10,6% dos votos –o que garante, no entanto, sua permanência no Parlamento.

Em Diyarbakir, a principal cidade curda da Turquia, houve confronto entre policiais e ativistas depois da divulgação dos resultados prévios. Oficiais dispararam gás lacrimogêneo contra manifestantes que protestavam atirando pedras. Os distúrbios começaram diante da sede do partido pró-curdo HDP.

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MEDO DA INSTABILIDADE

Os 54 milhões de eleitores turcos compareceram em massa às urnas para eleger o novo Parlamento, em um contexto de alta tensão devido à retomada do conflito curdo, à violência extremista procedente da Síria e às alegadas tendências autoritárias do governo.

"O medo da instabilidade na Turquia e a estratégia de Erdogan de se apresentar como o homem forte que pode proteger o povo venceram", analisou, por sua parte, Soner Cagaptay, do Washington Institute.

Erdogan e seu primeiro-ministro e líder do AKP, Ahmet Davutoglu, se apresentaram como os únicos que podem garantir a segurança e unidade do país.

"A Turquia tem feito grandes progressos no caminho da democracia e isso será reforçado com as eleições de hoje", afirmou Erdogan ao depositar seu voto.

Davutoglu, que votou em Konya, reduto conservador no centro do país, comemorou a conquista do partido.

"Essa vitória não é nossa. A vitória pertence ao povo", afirmou Davutoglu, diante de uma multidão de simpatizantes do AKP.

"Deus abençoe vocês por nos apoiarem nos piores momentos", ele disse. "Hoje é um dia de vitória, mas também um dia de modéstia."

O resultado oficial só será divulgado em 11 dias, quando acaba o prazo para pedidos de revisão que poderiam ser feitos pelos partidos.


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