Folha de S. Paulo


Metas atuais para o clima não evitam que Terra esquente 2,7°C, diz ONU

Um relatório divulgado pelas Nações Unidas nesta sexta-feira (30) mostra que, com as 119 metas de redução de gases estufa apresentadas por 146 países e pela União Europeia, que participarão da Conferência de Paris no fim do ano, a temperatura do planeta subirá 2,7°C até 2100.

O número é apresentado com certo otimismo pela Convenção do Clima da ONU, já que está bem abaixo do aumento de 4ºC ou 5ºC projetado antes da apresentação das chamadas INDCs (contribuição pretendida nacionalmente determinada, em inglês).

No entanto, está acima do compromisso de um aumento de 2ºC que se esperava obter na 21ª conferência global da ONU sobre o clima, que tem início em 30 de novembro. Os 2°C são considerados o limite aceitável para evitar um cenário catastrófico de elevação do nível dos oceanos, inundações e estiagens.

Por isso, o relatório vem como um alerta, um mês antes da conferência, para que os países façam um esforço maior até lá. Na avaliação da ONU, as metas apresentadas até 1º de outubro servem de entrada para cortes que ainda podem ser feitos.

"As INDCs têm a capacidade de limitar a projeção do aumento da temperatura em 2,7ºC até 2100 –o que não é, de nenhuma forma, suficiente, mas que é muito menor que os estimados 4ºC, 5ºC ou mais de aquecimento projetados por muitos antes das INDCs", disse a secretária-executiva da Convenção do Clima, Christiana Figueres.

O relatório mostra ainda que, com as propostas feitas pelos países, as emissões per capita, em todo o mundo, cairiam até 8% nos próximos dez anos e 9% até 2030.

Em números absolutos, isso representa um aumento nas emissões de 56,7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano até 2030. O número é 4 bilhões de toneladas menor que o esperado sem a adoção das metas.

As partes que apresentaram suas metas –que incluem todos os países desenvolvidos e os grandes emergentes– respondem por 86% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Segundo a ONU, desde 1º de outubro, outros países apresentaram propostas de cortes, e é esperado que mais países se manifestem até a COP-21.

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Em comunicado, o chanceler francês, Laurent Fabius, "exortou" todos os países a apresentarem suas metas até a Conferência de Paris como forma de tentar atingir o objetivo dos 2°C.

"Algumas previsões nos colocam em uma trajetória de elevação da temperatura entre 2,7°C e 3°C até o fim desse século. Isso confirma a importância de chegarmos, durante a COP-21, a um acordo que fixe regras capazes de rever periodicamente o aumento das contribuições nacionais", disse Fabius.

O ministro francês demonstrou, contudo, otimismo com a reunião que terá com 80 ministros, de 8 a 10 de novembro, antes da conferência. "A pré-COP (...) deverá permitir o avanço da ambição a ser perseguida nessas questões centrais e do objetivo de longo prazo", afirmou.

BRASIL

O governo brasileiro anunciou sua meta no fim de setembro, durante a Conferência da ONU para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, em Nova York.

O Brasil assumiu o compromisso de diminuir as emissões de poluentes em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo como base 2005.

A meta foi considerada cômoda por muitos, já que, entre 2005 e 2012, as emissões do Brasil já tinham caído aproximadamente 40% com a redução de 80% do desmatamento.

Editoria de arte/Folhapress
Meta pelo climaBrasil planeja redução de 43% de emissões de gases do efeito estufa até 2030
Meta pelo climaBrasil planeja redução de 43% de emissões de gases do efeito estufa até 2030

A justificativa do governo é que o país vai manter o "horizonte" de redução das emissões, mas que manter o ritmo conseguido de 2005 a 2012 é um "esforço inaudito".

A INDC do Brasil prevê ainda que a matriz energética brasileira terá participação de 23% de fontes renováveis, excluída a hidrelétrica, até 2030. Em junho, Dilma anunciara 20%. Energia solar, eólica e biomassa perfazem hoje 9% da matriz.

Contando com hidrelétricas, o objetivo é alcançar até 2030 participação de 45% de fontes renováveis. A média mundial é de 13%.

Com agências de notícias


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