Folha de S. Paulo


Terceiro na eleição presidencial acena a opositor no 2º turno

Depois de obter pouco mais de 5 milhões de votos (21% do eleitorado), o líder da Frente Renovadora, Sergio Massa, reuniu aliados nesta quarta (28) e indicou que apoiará a oposição no inédito segundo turno da eleição presidencial argentina.

Os eleitores do terceiro colocado são disputados tanto pelo candidato da situação, Daniel Scioli, quanto pelo opositor Mauricio Macri, da coligação Mudemos, que disputarão a eleição final no dia 22 de novembro.

Massa deu a entender que está mais próximo de Macri, mas não declarou apoio explícito ao candidato.

"A Argentina precisa de mudança, mas não de qualquer mudança", afirmou. "Não temos dúvida de que a maioria já elegeu a mudança em 25 de outubro. Agora temos que construir uma mudança inteligente, que não implique retrocessos para a nossa sociedade."

Marcos Brindicci/Reuters
Sergio Massa, terceiro na eleição, e sua mulher, Malena, chegam para evento em hotel de Buenos Aires
Sergio Massa, terceiro na eleição, e sua mulher, Malena, chegam para evento em hotel de Buenos Aires

O político passou a tarde reunido com 260 aliados, que elaboraram uma lista de propostas que serão levadas a Scioli e Macri.

Massa e seu grupo político disseram que "não são donos dos votos" e que os candidatos devem se comprometer com "as propostas eleitas por 5 milhões de votantes".

Durante entrevista coletiva, Massa criticou Scioli, a quem chamou de "kirchnerista, não peronista".

Já seus aliados foram mais assertivos. José Manuel de la Sota, governador de Córdoba e peronista antikirchnerista, e o economista Roberto Lavagna (ministro da economia na gestão Néstor Kirchner) afirmaram que não votarão em Scioli. Lavagna disse ainda que, "em princípio", votaria em Macri.

O otimismo com o provável reforço de Massa à candidatura do opositor, preferido de investidores e empresários, fez a Bolsa argentina fechar em alta de 5,46%, com valorização também de ações argentinas negociadas em Wall Street.

A primeira pesquisa realizada após o primeiro turno indica que a candidatura Macri está em ascensão.

Segundo o instituto González & Valadares, que tem ligação com Sergio Massa, Macri tem 45,6% contra 41,5% de Scioli no segundo turno.

Outros 4,1% informaram que votarão em branco, e há 8,8% de indecisos.

No levantamento, feito com 1.000 entrevistados por telefone entre esta terça e quarta-feira, quase a metade dos eleitores de Massa (45%) disseram que pretendem votar em Macri.

KIRCHNERISMO X SCIOLI

Nesta quarta, Scioli foi alvo do "fogo amigo" kirchnerista. Hebe de Bonafini, líder das Mães das Praças de Maio e aliada de Cristina Kirchner, disse em uma entrevista que o candidato "não é uma pessoa querida".

Desde o início da campanha, o chamado kirchnerismo duro resistiu em apoiar Scioli, considerado um político da ala mais à direita do peronismo.

"Scioli não é uma pessoa querida, não convence nas coisas que diz e paga as consequências. Agora é preciso redobrar [a aposta], é preciso votá-lo sim ou sim", disse Bonafini. "Quando Cristina propôs o seu nome, eu disse que não gostava dele, mas sou um soldado desta causa."

Representante do grupo de intelectuais kirchneristas Carta Abierta, Horácio Gonzales escreveu em sua coluna no jornal "Página 12", publicação simpática ao governo de Cristina, que Scioli deveria rever as indicações que já anunciou para seu ministério, caso seja eleito.

Segundo o diretor da Biblioteca Nacional, os nomes apresentados –todos mais ligados a Scioli do que ao kirchnerismo– são "um gesto em direção à mesma direita econômica globalizada que tem em [Mauricio] Macri um exímio porta-voz".

Para sciolistas, as críticas não afetam o candidato e podem até ajudá-lo, em um momento em que Scioli deverá tomar distância de Cristina para conquistar votos de eleitores refratários ao kirchnerismo.

Em sua campanha, a meta é conquistar ao menos 2 milhões de eleitores que optaram pelos quatro candidatos que ficaram de fora do segundo turno.

Pelas contas de seus assessores, os 407 mil votos de Adolfo Rodriguez Saá, peronista de San Juan, deverão migrar para Scioli. A avaliação é que o candidato possa receber ainda parte dos votos de Massa, mesmo que o candidato declare apoio a Macri. Também aí, segundo sciolistas, falaria mais alto o apelo peronista.

A Casa Rosada chegou a informar que a presidente se encontraria com Scioli nesta quarta (2), o que foi desmentido pelo chefe de gabinete Aníbal Fernández, político que perdeu a eleição na província de Buenos Aires.

Scioli deu declarações tentando minimizar o ocorrido: "Falo com a presidente sempre que tenho que falar".

Nesta quinta (29), Cristina deverá fazer um ato político na Casa Rosada, seu primeiro pronunciamento desde a votação do último domingo. Mas Scioli não deverá aparecer.

O candidato planeja se encontrar com dez governadores peronistas em Tucumán, onde pretende pedir que as lideranças locais trabalhem por sua campanha. Sem eleições regionais –que se encerraram com o primeiro turno presidencial–, teme-se que as bases se desmobilizem, o que afetaria o desempenho do peronista.


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