Folha de S. Paulo


Governo argentino segurou números da apuração por seis horas

A demora no anúncio dos resultados parciais oficiais, na noite de domingo (25), causou expectativa nos argentinos e desconfiança por parte da oposição.

Somente seis horas após o fechamento das urnas, foram oferecidos números relativos a cerca de apenas 30% das seções contabilizadas, apontando Mauricio Macri ligeiramente à frente, resultado que pouco depois virou a favor do candidato governista.

Antes disso, porém, havia festa nos dois "bunkers". No lado de Scioli, kirchneristas afirmavam que haviam ganhado "por ampla margem", mas não diziam qual era. No de Macri, uma euforia fora do comum fazia com que seus apoiadores não parassem de cantar e repetir: "Ganhamos!". Além disso, os macristas pediam ao vivo que o governo liberasse os resultados, dos quais já tinham conhecimento.

Os dois finalistas, Scioli e Macri, discursaram ao vivo na TV apontando que iriam para o segundo turno, também ainda sem que houvesse sequer um dado oficial divulgado. O mesmo fez Sergio Massa, admitindo ter ficado em terceiro lugar e, portanto, de fora do segundo turno.

"Está na cara que os dois lados já sabiam dos resultados. Os de Scioli esperavam que houvesse uma virada, por isso o governo segurou o anúncio do número, que até ali não era favorável. E os do Mudemos não iam estar comemorando desse jeito se não soubessem que tinham ido muito bem", disse o jornalista Jorge Lanata.

EXECUTIVO

Na Argentina, quem organiza a eleição e a apuração é o próprio poder Executivo, e quem veio a público para divulgar os primeiros números, já no início da madrugada desta segunda-feira (26), foi o ministro da Justiça Julio Alak. Após fazer várias ressalvas quanto a parcialidade dos números, por fim soltou as primeiras informações.

Alejandro Tullio, da Direção Nacional Eleitoral, justificou o atraso dizendo que se tratava de uma eleição muito difícil de contabilizar, devido ao tamanho das cédulas e ao fato de que houve alto índice de "corte de boleta".

Na Argentina, não há cédula única nem voto eletrônico, a votação se dá por meio de material impresso e distribuído pelo próprio partido. Se um eleitor deseja votar em candidatos de partidos diferentes, deve recortar as "boletas" dos partidos e inserir os pedaços relativos a seus candidatos na urna de votação.


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