Folha de S. Paulo


Eleição marca derrota kirchnerista em importantes regiões argentinas

A oposição levou a melhor em importantes regiões da Argentina na votação deste domingo (25).

Na província de Buenos Aires, onde estão 37% dos eleitores do país, venceu Maria Eugenia Vidal, da coligação Mudemos, liderada por Mauricio Macri.

Com 96,7% das mesas de votação apuradas, ela tinha 39,49% dos votos, contra 35,18% do candidato governista Aníbal Fernández (Frente para Vitória), que é ministro de Cristina Kirchner.

Denúncias de envolvimento com tráfico de drogas podem ter afetado a imagem do político kirchnerista.

Outra derrota marcante para o governo ocorreu na província de Jujuy, no norte do país, onde o militante da UCR (União Cívica Radical) Gerardo Morales superou o atual governador Eduardo Feller, filiado ao partido da presidente.

O peronismo não perdia uma eleição na província desde a volta da democracia, em 1983. Morales representou uma frente que reunia políticos da Mudemos e também da UNA, de Sergio Massa, que ficou em terceiro na eleição nacional.

Mapa eleitoral Argentino

ALÍVIO

Em sua terra natal, os Kirchner respiraram aliviados. Mas isso só por volta das 3h da manhã, quando confirmaram a vantagem de Alícia Kirchner, irmã do ex-presidente Néstor Kirchner, sobre o rival da UCR.

A votação em Santa Cruz é ainda mais complicada do que no resto da Argentina, pois a legislação prevê que mais de um candidato se postule pelo mesmo partido. Isso multiplica as chapas concorrentes e o número de cédulas em papel, o que atrasa a contagem dos votos.

A temperatura girava em torno de zero grau quando militantes da Frente para a Vitória começaram a montar um palco em frente ao Comando, unidade básica central do partido em Río Gallegos, capital de Santa Cruz.

Quando saíram os primeiros números nacionais, com Macri na frente de Daniel Scioli, candidato que representa o governo nestas eleições, o Comando ficou em silêncio.

"Alguém me explica, por favor, o que está acontecendo? Me deu um aperto aqui dentro", desabafou a peronista convicta Diana Inostrosa.

Enquanto ela e a filha Vanessa esperavam o resultado, a outra filha trabalhava como fiscal na apuração. Pouco depois da meia-noite, o trabalho de apuração não tinha terminado, apesar de toda a província de Santa Cruz ter cerca de 270 mil habitantes.

Diana resistia em acreditar no segundo turno mesmo quando os primeiros números oficiais começaram a sair, por volta de meia-noite.

À essa altura, Scioli já não era mais importante. A atenção e as palmas se voltavam para a apuração dos votos de Alícia Kirchner, que aparecia na frente na eleição local.

Os chefes do comitê pediam cautela. Com apenas 20% das mesas apuradas, havia muitos votos a contar ainda. A madrugada começava e os bumbos aumentaram os decibéis na Avenida Presidente Néstor Kirchner, no centro de Río Gallegos.

Pouco depois de 1h, Scioli empatou e logo passou Macri. Comemoração mesmo veio com a confirmação da vitória da kirchnerista na terra natal da família K.

Os números também confirmaram a vitória de Máximo para a Câmara dos Deputados, embora poucos tivessem dúvida do êxito eleitoral do primogênito dos dois últimos presidentes da Argentina.

HERDEIRO

Alícia e Máximo subiram ao palco improvisado pouco depois das 3h. Com uma grande foto de Néstor e Cristina Kirchner ao fundo, eles homenagearam o casal que comandou o país, de quem herdaram o prestígio político.

Máximo fez um discurso público, o que é coisa rara, no qual criticou o grupo Clarín por mentir e por só noticiar coisas ruins da província.

Ele disse que, na eleição, não estava em jogo sua reputação nacional e, sim, a eleição da tia.

"Não há projetos pessoais, há projetos coletivos", repetiu a frase de seu primeiro pronunciamento público, em setembro de 2014.

"Não entrei para a política por questões pessoais e, sim, por vontade de transformação", disse Máximo aos jornalistas que esperavam por seu pronunciamento, entre eles a Folha.

Ele agradeceu aos pais "por não se dobrarem". "Bancamos agressões e denúncias falsas, e não respondemos com a mesma moeda. Isso nos deixa muito felizes, somos diferentes."

2º TURNO

Sobre a vitória apertada de Scioli - que não aparecia em nenhum material de campanha dos Kirchner em Santa Cruz –, Máximo disse que "é preciso trabalhar muito".

"Temos que nos esforçar mais em todo o país, porque Macri representa o 24 de maio de 2003, e não o país que temos agora, que começou em 25 de maio de 2003 [dia da posse de Néstor Kirchner na presidência]".

Líder do movimento La Cámpora, que apoia a presidente, Máximo minimizou o número reduzido de quadros camporistas nos atos de campanha de Scioli, até mesmo em seu comitê em Buenos Aires, neste domingo.
"Foi uma questão de movimentação nossa, nada mais do que isso", afirmou.


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