Folha de S. Paulo


Scioli e Macri disputarão inédito segundo turno na Argentina

A Argentina terá um inédito segundo turno em 22 de novembro, entre o governista Daniel Scioli e o candidato opositor Mauricio Macri (Mudemos). Com 97,13% das seções eleitorais apuradas, Scioli aparecia com 36,86%, ante 34,33% de Macri.

O desempenho de Macri foi recebido com surpresa, já que o opositor mantinha uma desvantagem de quase dez pontos percentuais para Scioli nas pesquisas.

Os discursos de ambos neste domingo (25) já indicavam um segundo turno. A coalizão governista Frente para a Vitória insistia na versão de que ganhara "com ampla maioria" até as 23h de Brasília, quando o próprio Scioli subiu ao palco do Luna Park para "convocar a todos a nos acompanhar até o fim". Citou os "indecisos e independentes", sugerindo que o pleito não estava decidido.

Em sua fala, lembrou o que considera avanços do kirchnerismo, a política de direitos humanos, a estatização da YPF e da Aerolíneas Argentinas e a priorização dos interesses dos trabalhadores.

No "bunker" do Mudemos, Macri fez um longo discurso de agradecimento e pediu o voto dos que preferiram seus rivais, "inclusive os que votaram em Scioli, pois espero que se convençam de que nossa proposta é a melhor".

Já na manhã desta segunda (26), Macri comemorou o resultado parcial da apuração, afirmando que se trata "de uma mudança absoluta na política argentina".

Em sua declaração, Macri se dirigiu especificamente aos eleitores do terceiro colocado, o peronista Sergio Massa (UNA), ao dizer que iria "dialogar com os dirigentes que participaram desta eleição" para "maximizar as coincidências", segundo o jornal argentino "La Nación".

Eleições na Argentina

Massa também discursou ao fim da votação. Ele reconheceu ter ficado de fora e pediu que os argentinos ponham um fim "na política de governar distribuindo planos sociais", numa crítica clara ao kirchnerismo.

Confirmando-se o segundo turno, os mais de 5 milhões de votos de Massa que teria recebido serão disputados entre Scioli e Macri.

No Luna Park, a militância de Scioli começou a ocupar a casa de espetáculos logo após o encerramento das urnas. Não havia sinais de presença do La Cámpora, principal grupo de apoio do kirchnerismo. Destacaram-se as "la ñatas", espécie de "cheer leaders" da campanha. "Viemos de La Plata, queremos que continuem os planos sociais. Se a oposição ganha, com a crise mundial que está aí, vai tirar isso da gente", disse o estudante Sergio Muñoz, 29.

Em seu discurso, Scioli voltou a assegurar que os benefícios sociais continuarão e que não haverá ajuste "prejudicial aos trabalhadores".

"Meu compromisso é ser um presidente que represente a todos e não só a uns poucos", disse. A seu lado, estava o candidato a vice, Carlos Zannini, homem-forte do kirchnerismo apontado por Cristina para acompanhar Scioli na chapa.

A presidente votou em Río Gallegos e retornou a Buenos Aires, mas não foi ao ato.

O segundo turno será inédito na história recente da Argentina. Em 2003, Néstor Kirchner e Carlos Menem chegaram à reta final, mas Menem desistiu, e Kirchner se tornou presidente com apenas 22% dos votos.

.


Endereço da página:

Links no texto: