Folha de S. Paulo


Candidatos citam seleção de rúgbi como exemplo em pleito argentino

Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o candidato presidencial Daniel Scioli aproveitou o clima "esportivo" que tomou conta dos argentinos neste domingo e disse que a seleção de rúgbi é "um exemplo do que o país deve ser".

O time, conhecido como Los Pumas, encara a Austrália na tarde deste domingo e pode, pela primeira vez na história, chegar a uma final da Copa do Mundo de rúgbi. Segundo a imprensa argentina, o jogo, que começa às 13h (14h de Brasília), motivou os candidatos a adiantarem seus horários de votação.

"Los Pumas são uma expressão do que o país deve ser. Vamos nos contagiar com o espírito Puma. Esse trabalho em equipe, essa garra, esse coração, essa atitude de orgulho de levar a camisa argentina", disse. "Eu digo isso como esportista, quando se chega a um lugar de tanta transcendência não é casualidade. é fruto do esforço, do treinamento, do sacrifício e eu creio nesses valores", completou.

Scioli tem, segundo as últimas pesquisas, 38% das intenções de voto. O segundo lugar é do opositor Mauricio Macri, com 29,2%.

Nenhum dos candidatos tem os votos necessários para vencer no primeiro turno, mas os argentinos questionam se haverá uma segunda votação. O candidato precisa obter 45% dos votos ou 40% e vantagem de dez pontos sobre o segundo lugar para vencer no primeiro pleito. Assim, se Scioli aumentar a diferença mostrada pelas enquetes no resultado oficial, o país pode ter seu primeiro presidente definido em primeira votação.

Candidato pela Frente para a Vitória, Scioli preferiu não especular sobre o tema. "Eu fiz o meu melhor, como cada candidato, fazendo seus esforços."

Questionado sobre o que fará nesta segunda-feira (25), quando o resultado já deve estar divulgado, Scioli insistiu no tom de precaução: "Vou trabalhar, sou governador até dezembro. É uma província pujante, imagina a responsabilidade que tenho."

Acompanhado pela mulher, Karina Rabolini, o governador de Buenos Aires e candidato governista disse ainda estar em constante contato com a presidente Cristina Kirchner.

Aproveitou para marcar o discurso de continuidade, dizendo esperar que "as pessoas escolham seguir construindo sobre o que está construído, com um sentido comum".

"Peço aos argentinos que façamos hoje uma demonstração exemplar ao mundo e que todos os partidos políticos atuem com responsabilidade e respeito à vontade popular", disse ainda à imprensa, pouco antes de depositar seu voto em uma escola de Dique Luján, em Buenos Aires.

ONDA ESPORTIVA

O conservador Mauricio Macri também aproveitou a onda esportiva e disse que a seleção de rúgbi é um exemplo para os eleitores, mas para a mudança. "Eles são um exemplo. São a Argentina que queremos, todos unidos e mirando adiante", disse.

Macri votou no bairro do Palermo, em Buenos Aires, no fim da manhã e disse estar contente com as primeiras horas sem incidentes do pleito.

Cercado por jornalistas, ele insistiu no clima de mudança. "Vejo muita alegria nas ruas, hoje pode ser algo histórico. Os argentinos votam por seguir como está ou mudar, esperamos que votem pela mudança", disse o candidato, acompanhado por sua mulher, Juliana Awada.

ELEIÇÕES TRANQUILAS

O terceiro colocado na disputa, Sergio Massa votou mais cedo na manhã deste domingo em uma escola de Rincón de Milberg, Tigre, e disse esperar eleições tranquilas.

O candidato do partido Uma Nova Alternativa (UNA) foi acompanhado por sua mulher, Malena Galmarini. "Esperamos que [as eleições] sejam tranquilas, sem problemas e que se respeite a lei", disse o peronista dissidente de centrodireita, citado pelo jornal "Clarín".

Sorridente, cumprimentou todos os funcionários da sala em que votou. "Hoje é um dia de muita esperança e alegria para as pessoas. Independente do resultado, começará uma nova etapa", declarou o candidato, em aparente alusão ao fim dos 12 anos de governo de Cristina Kirchner e seu marido e predecessor, Néstor Kirchner (1950-2010).

As últimas pesquisas de intenção de voto colocam Massa com 21%, em terceiro lugar.

DIÁLOGO

O senador e ex-presidente interino Adolfo Rodríguez Saá (2001) também votou cedo. Ele compareceu às 8h30 (9h30 em Brasília) em uma escola de San Luis. Segundo o jornal "Clarín", ele afirmou que a "Argentina precisa privilegiar o diálogo".

"Fiz uma campanha eleitoral muito sólida e tive um diálogo muito formal. Cumpri mais uma vez com meu dever. Sinto que estou fazendo um gesto patriótico", disse o candidato ao votar.

"Hoje temos que privilegiar o diálogo, diálogo ameno, cordial, amigável que nos permita construir entre todos uma Argentina melhor", continuou Saá, candidato presidencial pelo partido Compromisso Federal.

Ele disse ainda, segundo o "Clarín", que vai fazer "uma proposta para o país" assim que houver um resultado parcial. Saá disse acreditar que será difícil não haver um segundo turno.

TRABALHADORES

Já o candidato da Frente de Esquerda, Nicolás del Caño, defendeu que os eleitores escolham "uma força que vá defender os interesses dos trabalhadores".

"Hoje é necessário votar com convicção e votar em uma força que vá defender os interesses dos trabalhadores", disse o jovem candidato, de 35 anos, que votou na manhã deste domingo em Mendoza. "Chamamos a gente a defender o voto", completou, acompanhado da candidata a deputada Noelia Barbeito.

Eleições na Argentina

Os eleitores argentinos também decidirão neste domingo a renovação de metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, além de governadores de 11 províncias e, pela primeira vez, parlamentares do Mercosul, o bloco econômico da região.

Mais de 100 mil membros das forças de segurança argentinas estão a postos pelo país para a eleição.

Já a oposição mobilizou milhares de militantes para fiscalizar as mesas de votação diante das denúncias de irregularidades em votações nas províncias neste ano. A Câmara Nacional Eleitoral também fortaleceu medidas para garantir a transparência da votação, como maior controle nas cabines de votação, acompanhamento por GPS dos caminhões que levam as cédulas e cópias adicionais das atas eleitorais.

As urnas das 95 mil mesas de votação serão fechadas às 18h (19h em Brasília) e a previsão é que os primeiros resultados sejam divulgados à meia-noite.


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