Folha de S. Paulo


Ex-premiê Tony Blair pede desculpas por erros na invasão do Iraque

O ex-premiê britânico Tony Blair pediu desculpas pelos erros que levaram à invasão do Iraque por tropas ocidentais em 2003, mas disse não se arrepender de ter derrubado o ditador Saddam Hussein (1937-2006).

"Eu posso dizer que eu peço desculpas pelo fato das informações de inteligência que recebemos terem sido erradas, mesmo que ele tenha usado armas químicas extensivamente contra seu próprio povo, contra outros, o programa, na forma em que pensávamos, não existiu", disse Blair, em entrevista à rede de televisão americana CNN.

"[Peço desculpas] por alguns dos erros de planejamento e, certamente, nosso erro na compreensão do que aconteceria no momento em que removêssemos o regime", disse o premiê, que ficou no poder de 1997 a 2007.

Brendan McDermid/Reuters
Ex-premiê britânico Tony Blair aguarda pergunta durante evento no memorial do 11 de Setembro, em Nova York
Ex-premiê britânico Tony Blair aguarda pergunta durante evento no memorial do 11 de Setembro

Em 2003, Blair apoiou a invasão liderada pelo governo do então presidente americano, George W. Bush, ao Iraque, sustentada majoritariamente na alegação de que Saddam possuía armas de destruição em massa. Bush também já admitiu que a informação estava errada.

O britânico, contudo, não se desculpou de forma geral pela invasão ou pela guerra devastadora no país e emendou: "Acho difícil pedir desculpas por tirar Saddam". "Mesmo hoje, em 2015, é melhor sem ele lá."

Com uma parte do Iraque sob influência do Estado Islâmico, Blair diz que há "elementos de verdade" no argumento de que a invasão tenha propiciado o surgimento da milícia radical.

"Claro que não se pode dizer que nós que derrubamos Saddam em 2003 não temos nenhuma responsabilidade na situação de 2015. Mas também é importante perceber que, primeiro, a Primavera Árabe que começou em 2011 também teria tido o seu impacto no Iraque de hoje, e, segundo, o Estado Islâmico cresceu a partir de uma base na Síria e não no Iraque".

Em uma aparente defesa, Blair disse ainda que o debate político em torno da intervenção ocidental em países do Oriente Médio e Ásia continua inconclusivo. "Nós tentamos a intervenção e colocar tropas no Iraque. Nós tentamos intervenção sem colocar tropas na Líbia e nós tentamos nenhuma intervenção, mas exigir mudança de regime na Síria", listou o ex-premiê. "Não está claro para mim, mesmo que nossa política não tenha funcionado, que as políticas subsequentes funcionaram melhor."

Questionado ainda como se sente perante o rótulo de "criminoso de guerra" que recebeu de críticos pela decisão de invadir o Iraque, Blair respondeu que fez o que julgava estar certo naquele momento. "Agora, se isso é certo ou errado, cabe a cada um julgar."


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