Folha de S. Paulo


Argentina vai hoje às urnas em busca de conversão ao centro

Os argentinos vão às urnas neste domingo (25) numa eleição de cenário incerto.

As mais recentes projeções indicavam que o primeiro colocado, o governista Daniel Scioli, ainda não havia crescido os dois pontos que precisava para vencer o pleito no primeiro turno —no país, é necessário obter 45% dos votos ou 40% e vantagem de dez pontos sobre o segundo lugar para evitar outra etapa.

Marcos Brindicci/Reuters
Propaganda de campanha de Daniel Scioli são colocados em postes em frente à Casa Rosada
Propaganda de campanha de Daniel Scioli são colocados em postes em frente à Casa Rosada

Já o segundo colocado, o opositor Mauricio Macri, tampouco conseguira diminuir a diferença para Scioli e levar a disputa a um tira-teima.

Se há uma certeza entre analistas ouvidos pela Folha é que a Argentina que virá após o dia 10 de dezembro, quando toma posse o eleito, se posicionará mais ao centro do espectro político.

Tanto Scioli quanto Macri falam em abertura do país para investimentos, retirada de travas no comércio exterior, necessidade de ajustes (rápidos ou graduais) na economia e na diminuição dos enfrentamentos com a oposição e os meios de comunicação.

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"Os candidatos são muito parecidos", diz Mariel Fornoni, do Management & Fit. "Nas pesquisas qualitativas, ao perguntarmos quais são as diferenças entre eles, as pessoas não sabem responder."

A pesquisa mais nova do instituto traz Scioli à frente com 38,3% das intenções de voto, Macri em segundo, com 29,2%,e Sergio Massa, peronista anti-Kirchner, em terceiro, com 21%.

Para o analista Patricio Giusto, do Diagnóstico Político, a semelhança entre os políticos se explica pelo anseio do eleitor argentino.

"O discurso de confrontação contínua de Cristina Kirchner saturou as pessoas. Diria que cerca de 70% do eleitorado hoje quer o caminho do meio", diz.

Talvez por esta razão, nos últimos dias, os dois favoritos, em vez de se distanciarem, optaram por se aproximar da imagem do rival ao se apresentarem aos eleitores.

Enquanto Scioli se esforçou por passar uma imagem tranquilizadora ao empresariado, o opositor Macri procurou se "peronizar" para atrair setores mais populares.

Eleições na Argentina

'FOGO AMIGO'

Mas a disputa não se restringe aos adversários. Para os entrevistados pela Folha, a eleição abrirá também uma reorganização dentro do próprio peronismo, numa eventual vitória de Daniel Scioli.

"O kirchnerismo e a ala do peronismo mais tradicional, representada por Scioli, irão disputar espaço de maneira intensa", afirma o historiador Luis Alberto Romero.

"O ambiente de agora me lembra o da divisão do peronismo nos anos 1970, antes da volta de [Juan Domingo] Perón do exílio, embora sem o mesmo grau de violência."

Para o analista Ricardo Rouvier, com o fim do mandato de Cristina Kirchner, o kirchnerismo lutará para sobreviver e poderá ter que enfrentar a política voltada para o centro que está por vir.

Ainda não se sabe se Cristina pretende continuar na política, rearmando sua base de apoio para um provável retorno em 2019, ou se preferirá a aposentadoria.

A alta popularidade da presidente —acima de 40%— e a eleição de alguns aliados de primeira hora para o Congresso, como o filho Máximo, podem indicar que ela conservará poder na futura gestão.

O primeiro embate entre os peronistas, passada a eleição deste ano, deverá ser as eleições legislativas de 2017.

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