Folha de S. Paulo


Candidato opositor pede votos em território 'inimigo' na Argentina

A cidade de Lanús, na região metropolitana de Buenos Aires, é um reduto peronista. Desde a volta da democracia, em 1983, nenhuma outra agremiação política governou a cidade, de meio milhão de habitantes.

O peronista histórico Manuel Quindimil, que foi contemporâneo do general Juan Domingo Perón, elegeu-se prefeito da cidade nada menos do que sete vezes.

Foi neste lugar, mais precisamente na diminuta quadra do clube presidente Quintana de Lanús, que o candidato da oposição à presidência da Argentina Maurício Macri fez seu último comício no maior colégio eleitoral do país. No reduto peronista, não encontrou hospitalidade.

Juan Mabromata - 21.out.2015/AFP
Macri é recebido por apoiadores em clube de Lanús, na região metropolitana de Buenos Aires, na noite de quarta (21)
Macri é recebido por apoiadores em Lanús, na região metropolitana de Buenos Aires, na noite de quarta

Néstor Grindetti, candidato a prefeito pela mesma coligação (Mudemos), revelou que os políticos opositores quase ficaram desabrigados depois que a direção do clube El Porvenir desistiu de receber o evento, no fim da tarde da última terça (20).

Na manhã de quarta (21), às pressas, os opositores encontraram abrigo no clube Quintana.

"É preciso ter colhões para enfrentar o kirchnerismo", discursou o candidato a prefeito, narrando o episódio um tanto irritado.

Assessores de Macri contam que, na última passagem do candidato pela cidade, o microfone e a luz foram cortados durante o comício.

TERRITÓRIO 'INIMIGO'

A província de Buenos Aires, onde vivem 37% dos eleitores argentinos, é um território majoritariamente peronista, que Macri deseja fincar bandeira.

Lançou como candidata à governadora Maria Eugênia Vidal, que, enfrentando o polêmico chefe de gabinete de Cristina Kirchner, Aníbal Fernández, tem chances de vencer.

"Sou eleitora da esquerda, não sei ainda em que votarei para presidente, mas aqui na província com certeza votarei por Vidal. Precisamos de mudança", diz a estudante de psicologia Sofia Stancaneli, 25, moradora de Lanús.

Para ela, seu pai, Roberto, e a irmã, Violeta, o maior problema da cidade é insegurança. "À noite não há policiamento. Para ir à casa de amigos, a três quadras daqui, tomo um táxi", disse Sofia.

Macri confia na popularidade que adquiriu sua pupila, na esteira da debilidade do opositor, para conquistar votos na região. Essa é a casa do candidato da situação, Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires.

ALERTA DE FRAUDE

É nesta região que a oposição mais teme sofrer sabotagem na eleição deste domingo.

Macri e seus aliados vêm alertando para possíveis fraudes, como roubo de cédulas eleitorais do partido opositor e compra de votos.

"Não vão nos roubar nenhum voto", discursou o primo do candidato, Jorge Macri, prefeito da cidade de Vicente López, também na região metropolitana. "55 mil almas vão trabalhar neste domingo para defender não só os votos de Mudemos, mas o direito das pessoas de escolher", disse.

Em seu discurso, na noite desta quarta (21), Mauricio Macri tratou de abordar uma das principais queixas dos moradores da região: o tráfico de drogas.

"Peço que o governador [Daniel Scioli] caminhe pela província de Buenos Aires, desça do helicóptero, e veja o que está acontecendo com as famílias afetadas pelo 'paco' [crack]", disse Macri. "Queremos enfrentar juntos esse flagelo."

VOTO ÚTIL

Ele repetiu o pedido, que vem fazendo aos eleitores de outros candidatos da oposição, para que adotem o voto útil e optem por ele, o que abriria chance de um segundo turno na eleição argentina.

As pesquisas indicam que Scioli está perto de marcar os 40% necessários para vencer na primeira rodada. Mas, segundo as regras eleitorais argentinas, o candidato líder tem que abrir uma distância de dez pontos percentuais em relação ao segundo colocado.

A coligação liderada por Macri obteve 30% nas eleições primárias, em agosto, reunindo votos de três presidenciáveis em um mesmo espaço político. Mas nessa segunda etapa, sozinho, Macri está marcando menos de 30% nas pesquisas eleitorais. Precisa, portanto, do apoio dos eleitores de outros candidatos para almejar um segundo turno contra Scioli.

"Estamos prontos em Mudemos para levar a bandeira de todos os que querem a mudança", disse Macri. "Peço que confiem mim, vou ser o presidente de todos os que pensam diferente, serei presidente da diversidade, dos que têm ideias novas", prometeu.


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