Folha de S. Paulo


Presença estrangeira na Esplanada das Mesquitas não é necessária, diz Kerry

O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, disse nesta segunda-feira (19) que não é necessário garantir presença internacional na Esplanada das Mesquitas, local sagrado em Jerusalém Oriental e foco de tensão na mais recente onda de violência entre israelenses e palestinos.

Kerry, que terá encontros nos próximos dias com os líderes de Israel, Jordânia e Autoridade Nacional Palestina, disse que conter a violência passa por esclarecer o estatuto do local para as partes envolvidas.

Jim Lo Scalzo-16.set.2015/Efe
JL02. WASHINGTON (UNITED STATES), 16/09/2015.- El secretario de Estado estadounidense, John Kerry, ofrece una rueda de prensa en el Departamento de Estado de Washington, EE.UU., el 16 de septiembre del 2015. EFE/Jim Lo Scalzo ORG XMIT: JL02
John Kerry participa de coletiva de imprensa em Washington

Na semana passada, a França havia apresentado à Organização das Nações Unidas a proposta enviar observadores internacionais à Esplanada das Mesquitas para evitar a escalada da tensão.

"Nós não contemplamos nenhuma mudança, assim como Israel", disse Kerry a jornalistas em Madri. "Israel entende a importância do status quo. O importante é ter certeza de que todos entendem o que isso significa. Não queremos uma nova mudança. Não queremos que terceiros ou outros interfiram."

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Emmanuel Nahshon, expressou nesta segunda-feira a "firme oposição" de seu país à proposta da França e a quaisquer iniciativas independentes relacionadas aos "interesses críticos" das autoridades israelenses.

ESPLANADA DAS MESQUITAS

O estatuto da Esplanada das Mesquitas é motivo de tensão permanente.

Localizado na Cidade Velha de Jerusalém, o local abriga a mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, construídos a partir do século 7º, e é considerado o terceiro lugar mais sagrado para os seguidores do islamismo. Muçulmanos creem que Maomé, seu profeta, tenha estado ali antes de sua "viagem noturna".

Ammar Awad-5.nov.2014/Reuters
Israeli border police officers walk past the Dome of the Rock on the compound known to Muslims as Noble Sanctuary and to Jews as Temple Mount in Jerusalem's Old City November 5, 2014. As Jordan joins a military campaign against Islamic State militants in Syria, tensions in Jerusalem pose a potentially bigger risk to a nation only slightly scathed by the turmoil sweeping the Middle East. Picture taken November 5, 2014. To match Insight MIDEAST-CRISIS/JORDAN-STABILITY REUTERS/Ammar Awad (JERUSALEM - Tags: MILITARY POLITICS RELIGION CONFLICT) ORG XMIT: JER06
Policiais israelenses caminham na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém

O local também é sagrado para os devotos do judaísmo. A tradição sugere que foi ali que Abraão se dispôs a sacrificar seu filho. O rei Salomão teria erguido, no mesmo ponto, seu templo, destruído pela Babilônia no século 6 a.C –e, uma vez refeito, desmontado pelos romanos no século 1º. Em uma das paredes externas da Esplanada, conhecida como Muro das Lamentações, Israel instituiu um local de rezas para os judeus.

De acordo com as regras que regem o acesso à mesquita de Al-Aqsa, que é administrada pelas autoridades religiosas da Jordânia, os judeus são autorizados a entrar no complexo, mas não podem rezar ali.

Nos últimos anos, ativistas judeus de extrema-direita têm aumentado as pressões para permitir a reza no local, provocando tensões com a comunidade muçulmana. Alguns religiosos sugerem a construção de um "Terceiro Templo" judaico no local.

Esplanada das mesquitas - Jerusalém

Israel, que ocupa Jerusalém Oriental desde 1967, controla o acesso à Esplanada, mas mantém um veto a manifestações religiosas a todos os não muçulmanos, como medida de segurança.

Para os muçulmanos, a autorização para judeus rezarem no local seria o primeiro passo para destruir as mesquitas, com o objetivo de construir o "Terceiro Templo".

Nas últimas semanas, palestinos entraram em confronto diversas vezes com soldados israelenses na Esplanada das Mesquitas, o que levou as autoridades israelenses a fechar o acesso à Cidade Velha por alguns dias.

A tensão em Jerusalém se espalhou para Israel e para os territórios palestinos ocupados. Desde o começo de outubro já morreram cerca de 40 palestinos, parte deles identificados como agressores, e dez israelenses.


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