Folha de S. Paulo


'Guerreamos contra o incitamento à violência', diz prefeito de Jerusalém

A reportagem da Folha pretendia entrevistar o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, na prefeitura, no centro da cidade milenar de 830 mil habitantes. Mas, na hora marcada para a conversa, na terça (13), os celulares começaram a soar, anunciando dois ataques a facas de palestinos contra judeus na cidade.

Foram 13 ataques semelhantes entre 3 e 14 de outubro, com oito mortos e dezenas de feridos.

Barkat, 55, saiu do escritório em polvorosa para ir aos locais, o que tem feito desde o começo da recente onda de violência.

A Folha falou com ele nesta quinta (15), por telefone.

Barkat, um ex-empresário secular que governa a cidade onde nasceu desde 2008, até tentou mudar a imagem de Jerusalém para um centro cultural e de entretenimento, mas a realidade da cidade dividida (apesar de Israel insistir que é "unificada") trouxe à tona seu passado militar.

Ex-paraquedista do Exército, ele foi flagrado visitando Jerusalém Oriental com um fuzil na mão.

A imagem caiu mal com a liderança palestina, que aponta o que vê como uso exagerado de força contra os palestinos envolvidos em esfaqueamentos.

Mas Barkat não só não se acanhou como sugeriu que outros saíssem armados também.

Em fevereiro, ele já havia rendido um agressor palestino com as próprias mãos.

A parte oriental de Jerusalém foi anexada por Israel após a Guerra dos Seis Dias (1967).

A grande maioria dos 300 mil palestinos da área se recusa a receber cidadania israelense, preferindo o status de residente.

É lá que os palestinos almejam fundar a capital de seu Estado, incluindo o epicentro das tensões: a Esplanada das Mesquitas (Monte do Templo, para os judeus), onde fica a Mesquita de Al-Aqsa, local sagrado para o islã.

Mas o lugar é também sagrado para o judaísmo: seria o sítio dos templos bíblicos de Salomão e Herodes.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

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Folha - Como o senhor tem lidado com a turbulência em Jerusalém?
Nir Barkat - A primeira medida foi deslocar um grande número de forças de segurança [na quinta, mais 300 soldados foram mobilizados] para a cidade para que, em casos de violência, elas possam chegar ao local imediatamente. Na maioria dos casos, a resposta aos ataques terroristas tem sido rápida.

Segundo, estamos numa guerra de Sísifo contra o incitamento. Infelizmente, líderes palestinos incitam seu povo através de mentiras para que os jovens saiam para cometer atentados. Mas vamos passar por essa onda e sair dela mais fortalecidos.

O senhor sugeriu que as pessoas saiam armadas nas ruas. Continua defendendo isso?
Ainda mais. Esclareço que sugeri só no caso de quem tem porte de arma válido, o que exige critérios rigorosos. Nunca faria essa sugestão no exterior.

Mas boa parte dos terroristas aqui em Israel foi neutralizada, nos últimos anos, por cidadãos que estavam por perto: profissionais de segurança, gente que serviu ao Exército em unidades de combate, reservistas.

São todos habilidosos com armas e conhecem situações de combate. Quando aparece alguém com uma faca para matar inocentes, cidadãos assim sabem o que fazer no mesmo nível que policiais.

Não houve mudança no status quo da Esplanada das Mesquitas, citada como motivo dos distúrbios recentes?
Quem diz que há mudança no status quo por lá sabe que está mentindo. Recentemente, terminou o Ramadã, o mês de festividades mais importante para os muçulmanos. Passou na maior tranquilidade. O incitamento começou justamente quando começam os feriados judaicos (setembro). O timing foi claro, e os motivos, claramente políticos.

A polícia de Jerusalém está agindo com força desproporcional ao matar, e não apenas deter, palestinos que participam de ataques?
Quais são as instruções para policiais americanos abrirem fogo quando alguém vem com uma faca na mão para matar? Como reagiria a polícia em São Paulo?

A instrução, como em todo o mundo, é, se o ataque está acontecendo, matar o terrorista para evitar mais vítimas. Se ele abandonar a faca, então deve-se apreendê-lo e leva-lo à Justiça. A ética e a moral dos policiais israelenses são altas.

O que é o "cerco" que foi decretado em alguns bairros árabes? É um toque de recolher?
Não sei como é no Brasil, mas é de praxe no mundo que, quando a polícia considera que um grande grupo trabalha para tumultuar e se torna perigoso, é preciso fazer um fechamento da área, ou decretar toque de recolher.

Ainda não chegamos a esse ponto. Criamos apenas um círculo em volta dos bairros de onde têm saído um grande número de terroristas e verificamos quem entra e sai.

Sei que dificulta as condições de vida de parte dos moradores, mas, neste momento, estamos salvando vidas. Quando a situação acalmar, tudo volta ao normal.

O senhor ainda acredita em coexistência entre judeus e árabes em Jerusalém?
Certamente. Meus planos de trabalho na prefeitura não mudaram nem um milímetro sequer com tudo isso.

Ainda quero desenvolver os bairros orientais da cidade, negligenciados no passado. Sou prefeito de todos os moradores da cidade, na mesma medida, não interessa a religião ou o bairro. Mas, ao mesmo tempo, defendo tolerância zero para violência.

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QUEM PODE TER PORTE DE ARMA EM ISRAEL

Oficial do Exército com nível mínimo de tenente

Graduado em unidade militar especial

Civil graduado em curso de agente de segurança de aeroportos ou do Shin Bet (Agência de Segurança)

Civil graduado em curso de agente de segurança, em geral ligado à polícia, com experiência de dois anos

O QUE É PRECISO

Viver em Israel há mais de três anos; ter mais de 21 anos; passar por exames físicos e mentais a cada três anos; passar por checagem do Ministério da Segurança Pública; provar que tem local seguro para guardar a arma

Só poderá ter uma arma, com 50 balas compradas de vendedor autorizado


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