Folha de S. Paulo


Explosões em Ancara, na Turquia, matam pelo menos 97

Pelo menos 97 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em explosões simultâneas neste sábado (10) nos arredores da estação central de trem em Ancara, capital turca. O ataque é considerado um dos mais letais da história moderna do país.

As explosões, a 50 metros uma da outra, aconteceram por volta das 10h (4h em Brasília), logo no início de uma manifestação batizada de Paz, Trabalho e Democracia, convocada por sindicatos e grupos da sociedade civil.

O ato, para o qual eram esperados milhares de pessoas, reunia esquerdistas e organizações de apoio aos curdos, grupo étnico sem território próprio e espalhado por regiões da Turquia, da Síria e do Iraque.

O objetivo da marcha, segundo seus organizadores, era protestar contra a retomada dos confrontos, no mês passado, entre o governo turco e militantes que lutam pela independência do Curdistão.

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Na tarde deste sábado (horário de Brasília), a Associação Médica da Turquia afirmou que ao menos 97 pessoas morreram no atentado. Segundo os números oficiais do governo turco, as explosões deixaram 95 mortos e 248 feridos.

Segundo Selcuk Atalay, representante da associação médica em Ancara, a expectativa é que o número de mortos cresça nos próximos dias devido ao grande número de pessoas internadas com queimaduras graves.

Até o fim da tarde, nenhum grupo assumira a autoria do ataque terrorista. De acordo com o premiê turco, Ahmet Davutoglu, há evidências fortes de que as explosões tenham sido provocadas por homens-bomba –um tipo de ataque inusual no país.

Davutoglu convocou uma reunião de emergência com os chefes das agências policiais e de inteligência e outros altos funcionários para investigar o atentado. Também declarou três dias de luto nacional devido ao ataque.

ESTADO ISLÂMICO E ELEIÇÕES

O primeiro-ministro também sugeriu que rebeldes curdos ou militantes ligados ao grupo terrorista Estado Islâmico (EI) podem estar por trás das explosões.

"Nós vínhamos recebendo informações da nossa inteligência, baseada em declarações dos rebeldes curdos e do Daesh, de que terroristas suicidas poderiam ser enviados à Turquia para provocar o caos", declarou Davutoglu. "Daesh" é o nome pelo qual falantes de árabe se referem ao Estado Islâmico.

O premiê também declarou três dias de luto nacional devido ao ataque.

Desde a ruptura do cessar-fogo entre a guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores de Curdistão (PKK, sigla em curdo) e o Exército turco, em julho, centenas de pessoas morreram em vários ataques, atentados e enfrentamentos.

A Turquia tem eleições parlamentares marcadas para o dia 1º de novembro. Nas últimas, em junho, o AK, partido do presidente Recep Tayyip Erdogan, perdeu a maioria no Parlamento, mas os partidos mais votados não conseguiram chegar a acordo para a formação de um governo.

Erdogan declarou que os ataques visam minar a unidade nacional turca e que a "maior resposta" será "a solidariedade e a determinação" que o país mostrará contra esse tipo de violência.

REPERCUSSÃO

Líderes mundiais, como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, condenaram a ação. Em Paris, cerca de mil pessoas se reuniram em uma marcha improvisada para homenagear as vítimas do ataque em Ancara.

Em nota, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Ned Price, afirmou que o atentado fortalece a determinação americana de combater o terror em coordenação com o governo turco.

Em outro comunicado, o Departamento de Estado americano classificou a ação de "hediondo ataque terrorista".

Aliada dos EUA e integrante da Otan, a aliança militar ocidental, a Turquia é também vizinha da Síria, que vive uma guerra civil desde 2011. Estima-se que o país já tenha recebido mais de 2 milhões de refugiados sírios.

Na tarde de sábado, o Itamaraty divulgou nota sobre o ataque manifestando "sua profunda consternação" pelas mortes e reiterando o repúdio do Brasil a qualquer forma de terrorismo.

De acordo com o comunicado do ministério, a Embaixada do Brasil em Ancara está acompanhando a situação.

CENSURA A IMAGENS

Ainda neste sábado, o governo turco confirmou ter imposto um "apagão", que disse ser temporário, em relação às notícias sobre o atentado.

Um porta-voz do governo disse que a censura atingiu imagens (fotos e vídeos) que mostrassem o momento das explosões, vítimas ensanguentadas ou qualquer outra imagem que pudesse aumentar o clima de pânico no país.

Ele também alertou que as emissoras que descumprirem as instruções estarão sujeitas a um "blecaute" completo.

Cidadãos turcos também relataram estar tendo dificuldades para acessar o Twitter e outras redes sociais na manhã de sábado. Não estava claro, porém, se as autoridades haviam bloqueado oficialmente o acesso aos sites.

Explosões na Turquia


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