Folha de S. Paulo


Otan diz estar pronta para defender Turquia de operação russa na região

A Otan (aliança militar do Ocidente) diz estar preparada para enviar tropas à Turquia a fim de protegê-la frente à ameça representada pela escalada da intervenção russa na vizinha Síria.

"A Otan está capacitada e pronta para proteger todos aliados, incluindo a Turquia, caso seja necessário", disse nesta quinta-feira (8) o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg.

Francois Lenoir/Reuters
NATO Secretary General Jens Stoltenberg addresses a news conference during a NATO defence ministers meeting at the Alliance headquarters in Brussels, Belgium October 8, 2015. NATO said it was prepared to send troops to Turkey to defend its ally after violations of Turkish airspace by Russian jets bombing Syria and Britain scolded Moscow for escalating a civil war that has already killed 250,000 people. REUTERS/Francois Lenoir ORG XMIT: FLR19
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fala durante coletiva de imprensa em Bruxelas

A declaração ocorreu antes do início de uma reunião em Bruxelas, na Bélgica, entre os ministros da Defesa dos 28 países-membros da Otan sobre a "preocupante escalada das atividades militares russas" na Síria e "suas implicações para a segurança" do bloco.

Os atritos entre a Otan e o Kremlin vêm crescendo desde que a Força Aérea russa iniciou, na semana passada, uma operação na Síria em favor do regime do ditador Bashar al-Assad sob o pretexto de atacar o Estado Islâmico (EI) e outros grupos radicais.

A tensão entre a Moscou e Ancara aumentou a partir do fim de semana, quando jatos russos que operam na Síria invadiram duas vezes o espaço aéreo turco. A ação irritou a Otan e o governo turco, que chegou a ameaçar abater as aeronaves caso a violação se repetisse.

"Não queremos quaisquer tensões com a Rússia, mas é nosso direito como vizinho esperar que a Rússia respeite as fronteiras e o espaço aéreo turcos e que respeite os interesses da Turquia com relação à Síria", disse na quarta-feira o premiê turco, Ahmet Davutoglu.

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O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, disse nesta quinta-feira que as ações militares da Rússia na Síria podem afetar sua parceria comercial.

"Perder a Turquia pode ser uma grande perda para a Rússia", disse Erdogan. "Se necessário, a Turquia pode buscar comprar gás natural [importante commodity russa] de lugares diferentes."

Buscando apaziguar o clima de tensão, a Rússia reiterou nesta quinta-feira querer manter boas relações com a Turquia.

"Com relação à operação da Força Aérea russa na Síria, nossas ações para proteger a Síria contribuem para garantir estabilidade e segurança na região próxima à fronteira com a Turquia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

ESCALADA MILITAR

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A escalada militar da guerra civil na Síria alcançou um novo patamar na quarta-feira, quando a Rússia disparou dezenas de mísseis contra alvos do EI a partir de navios de guerra no mar Cáspio, a 1.500 quilômetros de distância.

Também na quarta-feira, o Exército sírio iniciou uma grande ofensiva por terra, com o apoio de bombardeios russos, para retomar áreas controladas por grupos de oposição nas províncias de Hama e Idlib, no centro do país.

Segundo o Observatório Sírio pelos Direitos Humanos, organização baseada no Reino Unido, os recentes combates entre os rebeldes e as tropas pró-Assad são os "mais intensos em meses".

Nesta quinta-feira, o regime sírio expandiu sua operação para áreas na porção ocidental do país. O controle dos rebeldes sobre as áreas próximas ao Mediterrâneo, única saída da Síria para o mar, ameaça a estabilidade de Assad e a presença militar russa em bases próximas às cidades de Tartus e Latakia.

A guerra civil na Síria teve início em março de 2011, na esteira dos acontecimentos relacionados ao levante popular conhecido como Primavera Árabe. Desde então, grupos de oposição e milícias radicais assumiram o controle de partes do país, fragmentando seu território. O conflito já deixou cerca de 250 mil mortos e forçou o deslocamento de 11 milhões de pessoas, o que corresponde a quase metade da população síria.


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