Folha de S. Paulo


'Solução para a Síria não é uma guerra nos céus', afirma brasileiro da ONU

Diante da escalada militar do conflito sírio, com o início dos ataques aéreos pela Rússia, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão de Inquérito da ONU que investiga crimes contra direitos humanos no país, afirma: "A solução para a Síria não é uma guerra nos céus".

Pinheiro acompanha, em relatórios publicados desde 2011, a evolução das violações contra os direitos humanos no conflito sírio. Para ele, a principal preocupação das potências deve ser "recuperar a capacidade da negociação diplomática" para dar um fim à guerra no país, que já deixou mais de 200 mil mortos.

O presidente da comissão diz que o "envolvimento de diversas potências no conflito não é nenhuma novidade".

"O fato de uma das partes [Rússia] estar tendo um certo 'upgrade' não muda a equação do problema. Não é através da escalada militar que vai se resolver o conflito na Síria", afirmou à Folha.

Na última semana, Pinheiro e outros membros da comissão chegaram a celebrar o anúncio de que EUA e Rússia conversariam para tentar uma ação convergente na Síria.

Washington lidera a coalizão que faz ataques aéreos contra focos do Estado Islâmico na Síria e no Iraque há um ano. Moscou iniciou nesta semana bombardeios contra o EI, mas também contra outras facções que se opõem ao regime de Bashar al-Assad.

Apesar de defender que não há uma solução militar para o conflito sírio, o brasileiro reconhece que é "importante que a extensão da presença do EI seja contida".

"Mas, mesmo que haja uma ação coordenada em relação ao Estado Islâmico, é necessário que haja uma negociação entre todas as partes envolvidas", acrescenta.

Pinheiro não detalha quais deveriam ser os interlocutores num eventual diálogo para solucionar a guerra civil, mas esclarece que "ninguém está propondo negociar com o EI".

Sobre o regime de Assad, ele afirma que a posição da comissão é que a negociação deve ser "inclusiva".

Editoria de Arte/Folhapress

"A referência continua sendo o memorando de Genebra [2014], e não há nada nele que fale efetivamente em incluir ou excluir o governo sírio das negociações", diz Pinheiro.

Ele destaca ainda que alguns países, inclusive membros permanentes do Conselho de Segurança, "já estão mudando sua posição" sobre negociar com Damasco.


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