Folha de S. Paulo


Papa Francisco se reúne na Filadélfia com vítimas de abusos sexuais

No último dia de sua visita aos Estados Unidos, o papa Francisco se reuniu com cinco vítimas de abusos sexuais cometidos por padres, professores ou familiares e defendeu a punição a esses crimes.

O encontro, que durou meia hora, foi mencionado durante a reunião do pontífice com 300 bispos no seminário de São Carlos Borromeo, em Wynnewood.

"Ficaram gravadas no meu coração as histórias de dor e sofrimento dos menores que foram abusados sexualmente por sacerdotes", disse.

"Cubro-me de vergonha, pois as pessoas que tinham sob sua responsabilidade o cuidado de menores os estupraram e lhes causaram graves danos. Deus chora profundamente. Prometo que todos os responsáveis prestarão contas."

"Devemos a cada um dos sobreviventes e suas famílias nossa gratidão, por fazerem com que a luz de Cristo ultrapassasse essa maldade."

O encontro com as vítimas foi organizado pelo cardeal Sean O'Malley, que lidera uma comissão sobre abusos sexuais na Igreja Católica, e o arcebispo da Filadélfia Charles Chaput.

CRÍTICAS AO PAPA

Apesar das declarações, vítimas de abuso e seus advogados consideraram a atitude de Francisco tímida frente à magnitude do problema.

Eles também criticaram a escolha do Vaticano ao fazer com o papa se reunisse não somente com vítimas de abusos cometidos por clérigos.

Segundo o jornal "The New York Times", o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que o encontro foi feito intencionalmente dessa forma para mostrar que a igreja vê o problema do abuso sexual dentro de uma "grande perspectiva".

"Sabemos que esse problema é universal", disse.

Também causou ultraje às vítimas as declarações feitas por Francisco na última quarta (23), em encontro com bispos na catedral de São Mateus, em Washington.

Ali, após abordar o problema da pedofilia na igreja, Francisco agradeceu os religiosos por se esforçarem para manter a credibilidade da instituição nos EUA.

"Tenho ciência da coragem com que vocês enfrentaram momentos difíceis na história recente da igreja neste país, sem medo de autocríticas, a despeito do custo da mortificação e enorme sacrifício", declarou.

"Eu sei quanta dor nos últimos anos pesou sobre seus ombros, e eu dei apoio a todo o seu generoso compromisso de trazer alívio às vítimas e trabalhar para que esses crimes nunca mais se repitam", disse.

"Foi chocante e insultante, além de doloroso", disse ao "Times" John Salveson, vítima que hoje chefia uma organização na Filadélfia pelo fim do abuso sexual de crianças. "Não vejo como apoiar esses comentários."

Estima-se que mais de 100 mil crianças americanas tenham sido vítimas de abuso sexual por clérigos, segundo documento apresentado ao Vaticano em 2012.

Os escândalos sexuais, que vieram à tona a partir de 2002, afetaram duramente a credibilidade da Igreja Católica nos EUA. Em junho, o papa aceitou a renúncia de dois bispos americanos denunciados por negligência no caso de um padre preso por abuso sexual de crianças.

AGENDA

Também neste domingo (27), o papa visitou a maior prisão da Filadélfia, onde reuniu-se com cerca de cem prisioneiros e seus familiares.

O último compromisso público foi uma missa em frente ao Museu de Arte da Filadélfia, a qual compareceram dezenas de milhares de pessoas. Ao final do evento, foi anunciado que o próximo Encontro Mundial de Famílias será em 2018 em Dublin.

Às 19h46 (20h46 no Brasil), o papa concluiu sua viagem por Cuba e EUA e embarcou de volta para Roma.


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