Folha de S. Paulo


Líder chilena vive crise de popularidade

Para uma presidente que atingiu 84% de popularidade no fim de sua primeira gestão (2006-10) –recorde no Chile–, o magro índice de 22% (pesquisa CEP, divulgada no fim de agosto) é o suficiente para agravar um cenário de tensão política.

Um ano e meio após o início de seu segundo mandato, a socialista Michelle Bachelet, 63, luta para aprovar no Congresso um pacote de reformas educacionais e trabalhistas, com o qual pretende reestabilizar seu governo e recuperar a aprovação popular.

Apesar de ter maioria na casa, Bachelet não vem conseguindo fazer com que as leis que compõem seu plano de governo sejam aprovadas.

Sebastián Rodríguez/Efe
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, toma café da manhã com jornalistas em abril deste ano
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, toma café da manhã com jornalistas em abril deste ano

"Uma combinação de fatores explica esse mau momento. Por um lado, o desânimo com a desaceleração econômica, que vem com a queda das exportações para a China; depois, uma má condução na formulação dessas reformas, que são necessárias para diminuir a desigualdade no Chile. E, para agravar, estão os casos de corrupção ligados a seu governo", diz à Folha o analista Guillermo Hollzman, da Universidade de Valparaíso.

O estudioso se refere ao "nueragate", escândalo divulgado no início deste ano, em que o filho e a nora de Bachelet figuram como protagonistas. O casal teria se aproveitado de vínculos privilegiados no governo para especular com a compra e venda de terras.

"Bachelet foi muito lenta para reagir, e a sociedade não perdoou isso. Ela passou a perder apoio tanto da direita como da esquerda", diz Fernando García Naddaf, da Universidade Diego Portales.

Outro caso que ajudou a desgastar a presidente foi a denúncia de irregularidades no financiamento de campanha de vários partidos, inclusive o da Concertação, aliança à qual pertence.

Uma das empresas envolvidas é a mineradora Soquimich, que pertence a um parente do ex-ditador Augusto Pinochet (1915-2006).

O ponto mais polêmico das reformas é a promessa de campanha de tornar o ensino superior gratuito (principal bandeira das manifestações estudantis de 2011).

"Prometeram isso às pressas, agora é difícil cumprir, porque pressupõe uma reforma também do sistema de pré-escola e escola, difícil de implementar", diz à Folha o ex-candidato à Presidência Marco-Enríquez Ominami.

O contexto econômico internacional colabora para o clima ruim.

Com uma média de crescimento ao redor de 4% na última década, o Chile deve crescer de 1,8% a 2% em 2015, segundo projeções oficiais.

Exportador de minerais, principalmente cobre, o país sofre com a queda das compras chinesas.

SUCESSÃO

Com isso, a corrida pela sucessão de Bachelet, cujo mandato termina só em 2017, se acelerou.

No ano que vem serão realizadas eleições municipais, que devem servir de termômetro para o futuro rumo político do país.

À direita, vem se posicionando com duras críticas à Bachelet o ex-presidente Sebastián Piñera (2010-14). Já à esquerda, tradicional nicho da mandatária, novos nomes vêm se destacando e se apresentando como potenciais candidatos.

Um deles é o da senadora Isabel Allende (não confundir com a escritora homônima), filha do ex-presidente Salvador Allende, e o também ex-ocupante do cargo Ricardo Lagos (2000-2006).

O próprio Ominami também anuncia que entrará em sua terceira disputa –na última eleição, obteve 20% dos votos.


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