Folha de S. Paulo


ONU exige que Venezuela respeite direitos de colombianos deportados

O Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al Hussein, criticou nesta segunda-feira (14) a recente deportação de colombianos pela Venezuela e cobrou de Caracas proteção aos direitos das famílias afetadas.

O governo venezuelano disse que a expulsão de mais de 1.300 colombianos e o fechamento dos principais pontos de fronteira com a Colômbia são medidas necessárias para combater contrabandistas e paramilitares.

Samy Adghirni - 27.ago.2015/Folhapress
Barraco marcado com 'D' em San Antonio Del Táchira, na fronteira da Venezuela com a Colômbia
Barraco marcado com 'D' em San Antonio Del Táchira, na fronteira da Venezuela com a Colômbia

"Estou perturbado com a recente deportação coletiva de mais de mil colombianos pela Venezuela", disse Al Hussein em sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra.

O alto comissário disse que as medidas representam violação dos direitos humanos.

"Insto as autoridades a tomarem medidas imediatas para garantir a reunificação familiar e evitar mais abusos contra cidadãos colombianos", disse Al Hussein, numa referência ao fato de dezenas de famílias terem sido separada pelas ações de Caracas.

Em recente visita a municípios venezuelanos fronteiriços onde ocorreram expulsões, a Folha viu crianças cujos pais haviam sido deportados.

Muitos filhos de colombianos nasceram na Venezuela e, portanto, possuem cidadania venezuelana. Crianças que ficaram em território venezuelano estavam sob cuidado de parentes e vizinhos.

"As deportações geraram tanto temor que outros milhares [de colombianos] fugiram de forma espontânea", disse Al Hussein, numa referência a atos de intimidação por parte das forças venezuelanas, como a inscrição da letra "D", de demolir, em casas de colombianos.

A crise começou no dia 19 de agosto, após três militares venezuelanos terem sido feridos em um ataque na fronteira.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, culpou contrabandistas e paramilitares. Sob a justificativa de "limpar a área", Maduro fechou a fronteira no Estado de Táchira, decretou estado de exceção em cinco municípios do setor e iniciou as deportações. Outros 15 mil colombianos fugiram por se sentir pressionados.

Na semana passada, Maduro estendeu para o Estado de Zulia o fechamento da fronteira e o estado de exceção.

Críticos dizem que as escaramuças na fronteira decorrem da rivalidade entre bandas criminosas rivais que operam dentro do aparato de segurança e acusam o presidente de tentar desviar o foco da crise econômica antes da eleição parlamentar de 6 de dezembro.

A Colômbia denunciou os abusos na ONU.

Recentes tentativas de mediação diplomática por parte de países sul-americanos, incluindo o Brasil, até agora foram infrutíferas.

Tensões aumentaram no último fim de semana, depois que Bogotá afirmou que caças venezuelanos violaram seu espaço aéreo.


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