Folha de S. Paulo


Britânico da esquerda radical é favorito para liderar trabalhistas

O Partido Trabalhista, que faz oposição ao governo conservador do premiê David Cameron, encerrou nesta quinta-feira (10) a eleição para escolher o seu novo líder e, em tese, o provável candidato a primeiro-ministro britânico nas eleições de 2020.

O resultado será divulgado no sábado (12). O favorito é Jeremy Corbyn, 66, um veterano político radical de esquerda, visto como um "outsider" e que tem superado os outros três candidatos nas pesquisas.

Um deles, Liz Kendall, recebeu o apoio do ex-primeiro-ministro Tony Blair (1997-2007), que levou o partido a uma política mais centrista no seu período de liderança. Os outros dois candidatos são Andy Burnham e Yvette Cooper.

Peter Nicholls/Reuters
Jeremy Corbyn, candidato do Partido Trabalhista, faz comício em Londres
Jeremy Corbyn, candidato do Partido Trabalhista, faz comício em Londres

Desafeto de Corbyn, Blair vinha fazendo um apelo para que os eleitores trabalhistas não votassem nele.

"Sua vitória é a destruição do Partido Trabalhista", disse o ex-premiê na campanha. "Mesmo que você me odeie não leve o partido à beira do precipício", pediu aos trabalhistas, em um artigo no "The Guardian".

O ex-primeiro-ministro, porém, vem perdendo força dentro da legenda e já tinha sido derrotado em 2010, quando Ed Miliband foi escolhido o líder, numa disputa contra o próprio irmão, David, apoiado por Blair.

Corbyn defende, entre outras coisas, o fim da austeridade fiscal implementada pelo atual governo conservador, o aumento de impostos para ricos e mais proteção à área social.

Na política externa, se opôs à participação britânica na guerra do Iraque e é simpatizante da causa palestina. Membro do Parlamento, é favor da permanência do Reino Unido na União Europeia e da "renacionalização" de empresas privatizadas de energia e transportes.

Se diz republicano, embora tenha deixado claro que não pretende fazer disso uma bandeira contra a monarquia britânica.

Os trabalhistas perderam as últimas eleições no Reino Unido, em maio deste ano, quando Ed Miliband não conseguiu impedir a vitória dos conservadores, que conquistaram maioria para reeleger Cameron.

O novo líder é quem comanda o partido pelos próximos cinco anos. A possível vitória de Corbyn tem levado membros moderados da legenda a cogitar o risco de um racha e de uma debandada nos próximos meses.

FENÔMENO CORBYN

O processo de escolha ajuda a explicar os motivos que levaram ao "fenômemo Corbyn": uma reforma no sistema eleitoral do partido que deu o mesmo peso dos votos a todos filiados —antes, o voto era dividido proporcionalmente entre os membros do Parlamento britânico, do Parlamento europeu e os demais membros.

Além disso, abriu-se espaço para que eleitores temporários, chamados de "apoiadores", votassem pagando uma taxa de 3 libras (R$ 17).

Ao todo, pelo menos 550 mil pessoas estavam aptas a votar. A votação ocorreu nas últimas quatro semanas pelo correio e on-line.

Com a mudança nas regras, a chance de um político como Corbyn ganhar virou realidade, sobretudo por causa do apoio que tem recebido de sindicatos de esquerda radical.

Ao mesmo tempo, no entanto, ele não teria o apoio da maioria da bancada trabalhista no Parlamento, principal palco político da atuação do líder trabalhista na oposição ao governo conservador.

"Os membros do Parlamento são importantes, mas não são todo o Partido Trabalhista", afirmou Corbyn nesta quinta.


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