Folha de S. Paulo


Foi por meus filhos que fiz a travessia ilegal, diz pai do menino sírio Aylan

O sírio Abdullah Kurdi, pai do menino encontrado morto em uma praia da Turquia, disse que decidiu encarar a travessia ilegal pelo mar até a Grécia por sua família e que, agora, já não se importa em receber asilo.

"Se me dão agora o mundo inteiro, de que me serve? Já não tenho nem mulher nem filhos", disse em entrevista ao jornal "Le Journal du Dimanche". "Foi por eles que eu imigrei, mas veja o que aconteceu... Que a vontade de Deus seja feita", completou.

As imagens do corpo de Aylan Kurdi, de apenas três anos, deitado na praia de Bodrum se transformaram em um símbolo da gravidade da crise dos refugiados na Europa.

Kurdi afirmou que fizera um pedido formal de asilo como refugiado, mas, diante da recusa, decidiu embarcar na viagem clandestina rumo à Grécia.

Ele conta que a família vivia em Damasco, capital da Síria, mas diante da intensificação da guerra civil partiu para Aleppo, depois para Kobani e em seguida para Istambul, na Turquia.

Sem trabalho em solo turco, decidiu tentar um novo destino. "Para qualquer família síria emigrada, a menos que haja membros da família que trabalhem, é impossível sobreviver", disse Kurdi.

O sírio diz ter entrado com um pedido de refúgio ao Canadá, onde vive uma de suas irmãs. Segundo ele, a irmã estava disposta a assumir os custos de receber toda a família, mas as autoridades canadenses não aceitaram. O governo canadense nega ter recebido o pedido.

Kurdi diz então ter decidido seguir o caminho de milhares de outros refugiados sírios, entrando na Europa rumo à Alemanha.

Aylan e outros onze refugiados sírios morreram afogados na quarta-feira (2), quando dois botes naufragaram entre a Turquia e a Grécia. O irmão de quatro anos de Aylan, Ghaleb, e sua mãe, Rihana, também morreram afogados.

A família foi enterrada em Kobani, região de origem da família de Rihana.

Kurdi contou ao jornal que pagou 4.000 euros aos traficantes para que organizassem a travessia até Kos. Eles embarcaram em um bote com outras nove pessoas na região de Bodrum.

Quando o barco virou, afirma, ele tentou segurar seus filhos e a mulher, mas não conseguiu. "Deus não preservou a vida deles. Quando Ghaleb morreu, depois de cinco minutos, eu tentei salvar Aylan. Mas Aylan morreu também. Foi então que fui procurar minha mulher. Ela era um adulto, eu pensei que ela conseguiria. Mas depois vi seu corpo boiar na água."

O pai conta ainda que ficou três horas no mar até que um dos passageiros conseguiu sinalizar à Guarda Costeira.


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