Folha de S. Paulo


Renúncia de presidente por corrupção acirra a eleição na Guatemala

"Durante 20 anos fiz vocês rirem. Prometo que, se for eleito, não farei vocês chorarem." Este é o lema de campanha de Jimmy Morales, o comediante de 46 anos que, em pesquisa divulgada na última sexta (4), passou a liderar por pequena margem a pesquisa de intenções de voto na Guatemala.

A eleição ocorre neste domingo (6), após uma semana conturbada, em que Otto Pérez Molina renunciou à Presidência devido a acusações de corrupção. Assim como sua vice-presidente, Roxana Baldetti, também denunciada por desvio de verbas aduaneiras, Pérez Molina se encontra em prisão preventiva.

Os números apontam uma corrida acirrada e um muito provável segundo turno entre dois de três candidatos. Segundo o instituto ProDatos, Morales, que disputa pelo partido de direita Frente de Convergência Nacional, lidera com 25% das intenções de voto. Em segundo, está o também conservador Manuel Baldizón, até aqui apoiado pelo governo, com 22,9%.

Em terceiro vem a social-democrata Sandra Torres, com 18,4%.

Os números mostram uma mudança na tendência eleitoral. Até a semana passada, Baldizón liderava com folga. Depois que seu nome também foi envolvido nas investigações do caso de desvio de verba, começou a despencar nas pesquisas. Já Morales e Torres vêm crescendo.

"É muito apertada a diferença e é quase certo que tenhamos segundo turno", diz Martín Pellecer, diretor do meio digital Nomada.gt.

Para o economista Quique Godoy, a ascensão de Morales está relacionada às manifestações. "As pesquisas aqui não usam amostragens representativas. O interior dará mais votos a Baldizón. Ainda assim, a distância será muito pequena e sua candidatura está em queda. Teremos segundo turno", afirma.

PERSONAGEM

Produtor, ator e apresentador cômico, Jimmy Morales ficou famoso interpretando o personagem "Neto", um caubói que vira presidente por acaso. Seu partido tem o apoio dos militares.

Já Manuel Baldizón, 45, projetou-se ao lançar, como deputado, um programa de pensão para idosos que nunca haviam trabalhado. Logo, porém, surgiram denúncias na imprensa de que parte da verba era desviada para ONGs ligadas a suas empresas.

Sandra Torres, 59, é a opção mais progressista, e ficou conhecida por conta do casamento com o ex-presidente Álvaro Colom.

Outra parente de político na disputa é Zury Ríos, 47, filha do ex-ditador Efraín Ríos Montt, condenado a mais de 50 anos de prisão por crimes contra a humanidade. Ríos tem o apoio de grupos de defesa dos direitos da mulher, por propor legislação contra a violência de gênero.

Desde a última terça (3), quando o Congresso retirou a imunidade de Pérez Molina, levando-o a renunciar, as ruas da capital guatemalteca estão em festa. "Parece que é feriado desde esse dia", conta Godoy.

Para o presidente do tribunal eleitoral, Rudy Pineda, a saída de Pérez Molina não impactará a eleição. "A democracia se fortalece."

Se houver segundo turno, será realizado em 25 de outubro. O presidente em exercício, Alejandro Maldonado, governa até 14 de janeiro.


Endereço da página:

Links no texto: