Folha de S. Paulo


Áustria autoriza migrantes a passarem por seu território para ir à Alemanha

Pelo menos 1.200 refugiados, majoritariamente de origem síria e afegã, deixaram Budapeste, capital da Hungria, nesta sexta (4) rumo à fronteira com o território austríaco, dispostas a percorrer uma distância de cerca de 170 km para chegar à Áustria.

Em reação à marcha, na madrugada deste sábado na Europa, o governo austríaco anunciou que daria passagem aos refugiados e que o governo alemão faria o mesmo, permitindo sua entrada no país –mas sem garantia de concessão de asilo.

O chanceler austríaco, Werner Faymann, fez o anúncio após falar com a alemã Angela Merkel, referindo-se à "situação emergencial na fronteira húngara".

Pressionado, o governo da Hungria recuou e decidiu, neste sábado, fretar ônibus para levar até a fronteira austríaca os imigrantes que aguardam há dias na principal estação de trem de Budapeste.

A marcha havia começado em reação ao fechamento desta estação pelo governo.

As imagens mostravam jovens, idosos, crianças e até pessoas em cadeira de rodas e muletas na travessia. Uma delas empunhava a bandeira da União Europeia.

Pelas regras da UE, eles devem pedir asilo no primeiro país do bloco em que entram, mas muitos que estão na Hungria querem seguir para áreas mais ricas, como Áustria, Alemanha e França.

A alemã Merkel tem cobrado que os países cumpram as regras, e depois disso o governo húngaro bloqueou as partidas de Budapeste.

O premiê Victor Orban, um líder da direita conservadora da Hungria, atribui a culpa da crise à Alemanha por, segundo ele, estimular os pedidos de asilo no país, refletindo nesse fluxo caótico dentro da Europa.

"Hoje falamos de dezenas de milhares, mas amanhã estaremos falando de milhões, e isso não terá fim", disse, em entrevista nesta sexta.

A Hungria estima ter recebido de 140 mil a 160 mil imigrantes somente neste ano.

A ONU afirmou que serão necessárias agora 200 mil vagas –e não 100 mil como antes– para realocar os refugiados na Europa.

O órgão aponta que mais de 330 mil cruzaram o mar Mediterrâneo rumo ao continente em 2015.

MUDANÇA DE TOM

O premiê britânico, David Cameron, anunciou nesta sexta que o Reino Unido aceitará receber "milhares" de refugiados sírios. O gesto é parte de um movimento para reduzir o desgaste do seu governo sob a crise migratória.

Cameron vinha adotando um discurso de resistência à chegada de mais refugiados –chegou a chamar de "enxame" a multidão na cidade francesa de Calais que tentava forçar a passagem para o Reino Unido pelo Eurotúnel.

A repercussão da foto do corpo do menino Aylan Kurdi, de três anos, numa praia turca, aumentou a pressão para que Cameron se alinhasse ao discurso de outros líderes europeus, como o de Merkel, de buscar uma solução que envolva uma política mais efetiva de abrigo a essas pessoas.

O premiê sinalizou, no entanto, que abrirá as portas somente para os que vivem em campos de refugiados da ONU, e não aos que estão viajando pela Europa para chegar a países mais ricos.

"Isso oferecerá a eles uma rota mais segura e direta para o Reino Unido, em vez de se arriscarem em jornadas perigosas que tragicamente custam muitas vidas", disse, em Lisboa, após o encontro com o premiê português, Pedro Passos Coelho, que também manifestou disposição em ajudar.

Portugal estuda receber 3.000 refugiados, segundo o diário "Público".

Já Cameron não citou números, mas se estima que esteja disposto a receber 4.000 sírios, que se somariam aos 5.000 que o país estima já abrigar hoje.


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