Folha de S. Paulo


Frustrados, refugiados decidem ir a pé da Hungria até a Áustria

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Centenas de migrantes decidiram ir a pé da Hungria até a fronteira com a Áustria nesta sexta (4) após uma série de confrontos com a polícia nos últimos dias.

Em resposta, o governo húngaro anunciou às 22h (horário local) que proverá ônibus para o trajeto.

Uma marcha com mais de mil pessoas saiu da capital, Budapeste, na manhã de sexta com o objetivo de vencer a pé a distância de 170 quilômetros até o país vizinho, considerado porta de entrada para países mais ricos da Europa, como a Alemanha.

Na cidade de Biscke, a 135 km da divisa, ao menos 200 pessoas furaram um cerco policial, invadiram a linha férrea e começaram a caminhar nos trilhos em direção a Viena.

Eles faziam parte de um grupo que chegou à cidade na quinta (3) e que se recusava a sair de um trem para ir a um acampamento na região.

Os migrantes dizem ter sido enganados pelas autoridades húngaras. Segundo os refugiados, eles foram informados em Budapeste de que o trem os levaria até a fronteira com a Áustria, não a Biscke.

Antes disso, por dois dias, a polícia havia impedido os migrantes de entrarem na estação ferroviária de Keleti, o principal terminal internacional húngaro de trens.

Dessa maneira, não está claro se os refugiados aceitarão embarcar nos ônibus prometidos na noite dessa sexta pelo governo húngaro, que teoricamente os levariam para a fronteira austríaca.

Muitos dos migrantes que chegaram à Hungria são refugiados da Síria, que enfrenta uma intensa guerra civil desde 2011, em decorrência da Primavera Árabe.

Hungria - Áustria

O governo de Budapeste –liderado por um premiê alinhado à direita, Viktor Orban– argumenta que as restrições impostas aos refugiados em seu território são necessárias para implementar as regras da União Europeia, que estipulam que os migrantes devem se registrar e pedir asilo no primeiro país do bloco ao qual chegarem.

No entanto, os refugiados evitam fazer o procedimento na Hungria, visto como economicamente mais frágil e mais propenso a negar o asilo e deportá-los.

"Hoje falamos de dezenas de milhares [de migrantes], mas amanhã estaremos falando de milhões, e isso não terá fim", disse Orban em entrevista a uma rádio nesta sexta. "De repente, seremos minoria no nosso próprio continente."

"Temos que deixar claro que não podemos deixar todos entrarem, pois, se deixarmos, a Europa estará acabada. Se você é rico e atraente para os outros, você também precisa ser forte. Se não for, eles tomarão tudo pelo qual você trabalhou, e você também ficará pobre", afirmou Orban.

CRISE NO BLOCO

A crise provocada pela vinda de milhares de refugiados de países em conflito para a União Europeia vem fragilizando a unidade do bloco.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse que é preciso que os países parem "de apontar os dedos para seus vizinhos". "Culpar uns aos outros não nos fará controlar o problema", disse.

Mais de 340 mil migrantes chegaram à Europa desde o início do ano. Cerca de 160 mil deles entraram pela Hungria, que culpa a Alemanha de encorajar sírios a pedirem asilo.

A tragédia dos refugiados que tentam chegar ao continente ganhou atenção internacional nos últimos dias, após ser escancarada pela comovente foto do corpo de uma criança síria encontrada morta em uma praia da Turquia.

O menino, identificado como Aylan Kurdi, estava em uma embarcação que tentava fazer a travessia da Turquia até a cidade grega de Kos.


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