Folha de S. Paulo


Papa permite a padres absolver mulheres que abortaram

O papa Francisco anunciou que vai permitir aos padres católicos que perdoem mulheres arrependidas que tenham feito abortos, assim como os médicos que fazem o procedimento, nesta terça (1º). A declaração foi feita em carta que detalhava as medidas que concederá no próximo ano do Jubileu.

"Decidi, não havendo nenhuma disposição em contrário, conceder a todos os padres no Ano do Jubileu o arbítrio para absolver o pecado do aborto àqueles que o possuem e a quem, com o coração constrito, buscam o perdão por isso", afirmou.

O pontífice argentino disse também estar "bastante a par da pressão" que as mulheres sofrem para abortar, afirmando conhecer "muitas mulheres que guardam em seu coração a ferida dessa decisão dolorosa".

O argumento usado pelo papa é de que "o perdão de Deus não pode ser negado àqueles que se arrependeram, especialmente quando alguém busca o sacramento da confissão com um coração sincero para que obtenha a reconciliação com o Pai".

AFP
This handout picture released by the Vatican press office (Osservatore Romano) shows Pope Francis holding up sacramental bread as he celebrates mass in Santa Marta at the Vatican on September 1, 2015. AFP PHOTO / OSSERVATORE ROMANO -- RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
Papa abençoa hóstia durante missa na casa de Santa Marta, no Vaticano

Francisco havia decidido celebrar um ano extraordinário do Jubileu entre 8 de dezembro de 2015 e 20 de novembro do ano seguinte, tendo como tema a misericórdia. Na tradição católica, os jubileus são anos dedicados à remissão dos pecados e ao perdão universal.

Até então, um fiel que buscasse o perdão de um pecado grave como um aborto não seria capaz de obtê-lo de um padre. A recomendação da igreja era que apenas os bispos deveriam lidar com esse tipo de confissão. Na prática, a decisão de Francisco descomplica o processo.

O papa, 78, que tem repetidamente instado a igreja a mostrar mais compaixão, disse que os padres deveriam usar "palavras de boas-vindas genuínas" às mulheres e médicos que os buscassem após o procedimento, mas ao mesmo tempo ressaltar aos mesmos que estejam conscientes "da gravidade do pecado cometido".

A decisão do pontífice é mais uma que o opõe aos sacerdotes mais conservadores do Vaticano. No início de agosto, Francisco já havia voltado a defender o acolhimento de divorciados, os quais são impedidos de receber o sacramento de acordo com o ensinamento tradicional da igreja.

"Quem estabelece uma união após a derrota do casamento não é totalmente excomungado, e absolutamente não deve ser tratado desta forma. Eles sempre pertencerão à Igreja, que deve manter suas portas abertas", afirmou, em audiência.

Francisco também deu declarações favoráveis à recepção de homossexuais ao longo de seu papado: "Quando Deus olha para uma pessoa gay, ele endossa a existência dessa pessoa com amor, ou a rejeita e condena? Nós devemos sempre considerar essa pessoa". Apesar disso, ele não retrocedeu em relação à posição oficial de que o homossexualismo é uma perversão e continua condenando a legalização da união de pessoas do mesmo sexo.

Em janeiro, durante visita às Filipinas, Francisco classificou as ideias sobre métodos contraceptivos e direitos LGBT como uma "colonização ideológica" que países desenvolvidos exercem sobre regiões pobres do mundo.

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ORA ET LABORA
Principais obras de Francisco à frente da Igreja Católica

Aborto
Permitiu aos padres conceder perdão a mulheres e médicos que fazem aborto e "àqueles que buscam o perdão" ao longo do próximo ano do Jubileu (do próximo dia 8.dez a 20.nov.2016)

Conselho de cardeais
Francisco foi o primeiro pontífice a criar um grupo permanente de oito cardeais do mundo todo para assessorá-lo

Sínodo da família
Em duas partes (a segunda será em outubro), a reunião de bispos do mundo todo debate os desafios das famílias católicas em temas como comunhão para fiéis divorciados e acolhida a homossexuais

Oriente Médio
Após sua visita a Israel e à Palestina, Francisco conseguiu reunir autoridades israelenses e palestinas no Vaticano para orações pela paz na região

Reforma econômica
Para evitar escândalos financeiros no Vaticano, Francisco abriu as portas da Santa Sé para auditores internacionais e criou o Secretariado da Economia, liderado pelo cardeal australiano George Pell

Abuso sexual
Criou uma comissão especial para lidar com acusações de abuso sexual contra crianças cometido por sacerdotes; é liderada pelo cardeal americano Sean O'Malley e tem vítimas de abusos entre seus membros

Ambiente
Francisco é o primeiro papa a fazer uma encíclica (principal documento com os ensinamentos do pontífice para a igreja) sobre a questão ambiental


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