Folha de S. Paulo


Crise de refugiados é tão desafiadora quanto reunificação alemã, diz Merkel

A chanceler alemã, Angela Merkel, comparou nesta segunda-feira (31) o teste que a Alemanha enfrenta em lidar com o fluxo de refugiados com o desafio de reunificar o país há 25 anos e fez um apelo para que os cidadãos mostrem flexibilidade, paciência e compreensão.

Durante uma coletiva de 90 minutos, em que foi questionada sobre assuntos como a zona do euro, o conflito ucraniano e o Irã, Merkel descreveu a crise de asilo europeia como um "grande desafio nacional" que durará anos.

O governo alemã espera receber 800 mil pedidos de asilo neste ano, quase quatro vezes o total do ano passado e muito mais do que qualquer outro país da União Europeia, que está lidando com seu maior influxo de refugiados desde a Segunda Guerra.

O fluxo de pessoas, muitas delas fugindo de conflitos em nações como a Síria e o Iraque, sobrecarregou comunidades locais e provocou uma dura reação de militantes da extrema direita que vêm mantendo protestos contrários aos refugiados e incendiaram quase 200 abrigos.

"Há muitos exemplos de coisas com as quais conseguimos lidar", disse Merkel, dando como exemplo a crise financeira, a diminuição do uso de energia nuclear e a união entre o leste e o oeste da Alemanha há 25 anos. "Agora estamos perante esse tipo de desafio."

"A rigidez alemã é ótima", acrescentou. "Mas o que precisamos agora é da flexibilidade alemã."

Merkel disse que a Alemanha deve acelerar a habilitação de processos de asilo, construir mais centros para novas chegadas e assegurar que os custos de lidar com a crise sejam compartilhados de forma justa entre o governo federal, os Estados e os municípios.

A chanceler alemã também prometeu "tolerância zero" em relação aos crimes de ódio e às agressões contra refugiados.

No início deste mês, um protesto contra refugiados em Heidenau, no leste do país, tornou-se violento, com membros da extrema direita arremessando garrafas e pedras, e alguns gritando "Heil Hitler".

Quando Merkel visitou a cidade na última quarta-feira (26) para mostrar solidariedade aos refugiados, foi hostilizada, com alguns a chamando de traidora.

"Vamos usar a força total do Estado contra aqueles que abusam verbalmente de outras pessoas, as atacam, incendeiam seus abrigos ou que recorrem à violência contra eles", disse Merkel. "Não haverá tolerância para aqueles que colocam a dignidade dos outros em questão."

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Ela descreveu a descoberta de 71 imigrantes mortos em um caminhão abandonado na Áustria, na semana passada, como uma "atrocidade incomensurável".

Apesar de ter evitado criticar outros países europeus que se recusam a receber refugiados, Merkel deixou claro ser importante que o bloco alcance em breve um acordo sobre uma política comum de asilo para que a carga seja dividida de forma mais igualitária entre os países-membros da UE.


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