Folha de S. Paulo


Caminhão na Áustria tinha 71 corpos de imigrantes, quatro deles crianças

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As autoridades austríacas anunciaram nesta sexta-feira (28) que 71 corpos de imigrantes em decomposição estavam no caminhão localizado perto da Hungria.

Segundo os dados divulgados, os corpos são de 59 homens, oito mulheres e quatro crianças –uma garota com cerca de dois anos e três garotos com entre 8 e dez–, e todos, aparentemente, morreram sufocados dentro do veículo. A polícia austríaca informou que, a princípio, tratam-se de refugiados da Síria.

Os cadáveres foram encontrados nesta quinta (27) em um caminhão-frigorífico com placa húngara a 40km de Viena (capital da Áustria). Inicialmente, a estimativa era de 20 a 50 corpos. De acordo com as autoridades, provavelmente todos já haviam morrido quando o veículo cruzou a fronteira da Hungria para a Áustria. Pelo menos três suspeitos já foram presos na Hungria por envolvimento no episódio.

A descoberta dos corpos ocorreu no momento em que uma reunião extraordinária ocorria em Viena para discutir soluções à situação que se agravou nos Bálcãs nos últimos dias.

A chanceler alemã, Angela Merkel, presente à reunião em Viena, declarou estar "profundamente abalada". "Isso nos faz lembrar que precisamos enfrentar rapidamente a questão imigratória, dentro de um espírito europeu, de solidariedade."

A decisão da líder alemã de comparecer ao debate na Áustria ocorre em meio a uma crise interna em seu país envolvendo grupos de extrema-direita hostis a refugiados.

Merkel tem reagido com o discurso de que não vai tolerar xenofobia diante do fato de que a Alemanha espera receber 800 mil pedidos de asilo neste ano, mais do que qualquer outro país europeu.

O chanceler austríaco, Werner Faymann, afirmou que os corpos no caminhão reforçam a necessidade de uma saída urgente para conter o fluxo diário de imigrantes para a União Europeia, e a ministra do interior, Johana Mikl-Leitner, prometeu intensificar o combate a traficantes de pessoas na região. "São criminosos", disse.

Dieter Nagl/AFP
Forensic officers stand in front of a truck inside which where found a large number of dead migrants on a motorway near Neusiedl am See, Austria, on August 27, 2015. The vehicle, which contained between 20 and 50 bodies, was found on a parking strip off the highway in Burgenland state, police spokesman Hans Peter Doskozil said at a press conference with Interior Minister Johanna Mikl-Leitner. AFP PHOTO / DIETER NAGL ORG XMIT: agz1463
Peritos em frente a caminhão abandonado com corpos de imigrantes na Áustria

BARCOS NAUFRAGADOS

Segundo dados do Acnur (agência da ONU para refugiados), pelo menos 300 mil pessoas chegaram à Europa pelo mar Mediterrâneo em 2015. A Grécia é o país que mais recebeu, com 200 mil, seguida da Itália, 110 mil.

A maioria parte em barcos e botes precários do território da Líbia (norte da África), procedente de países como Síria, Afeganistão, Paquistão, e da África subsaariana.

Nesta quinta, dois desses barcos naufragaram na costa da Líbia com quase 500 pessoas a bordo. Segundo a organização Médicos sem Fronteiras, ao menos 200 corpos foram resgatados. Cerca de 200 imigrantes foram retirados com vida do mar.

Na Europa, o cenário se agravou nos últimos dias com o fluxo intenso saindo Grécia em direção à Macedônia e, de lá, para a Sérvia.

A Hungria afirmou ter interceptado um número recorde de imigrantes para um só dia, 3.241, sendo 700 menores, na quarta (26). Vieram da Sérvia. O governo húngaro está em fase final de construção de uma barreira de 175 km entre os dois países.

A mídia europeia trata a situação como a mais grave crise imigratória desde 1945. "Temos mais refugiados no mundo do que em qualquer momento desde a Segunda Guerra", disse Merkel.

ROTAS MIGRATÓRIASEuropa recebeu mais de 300 mil imigrantes desde o início do ano, segundo Acnur

REINO UNIDO

Também nesta quinta, o governo britânico revelou um recorde no seu saldo migratório (diferença entre o total de estrangeiros que chegam e britânicos que saem).

Ao todo, 636 mil pessoas imigraram para o Reino Unido nos 12 meses até março, 84 mil a mais do que o período imediatamente anterior. Ao mesmo tempo, 307 mil britânicos saíram neste intervalo, uma queda de 9.000. A diferença de 329 mil (636 mil menos 307 mil) é um recorde.

Os números aumentam a pressão dentro do governo conservador do premiê David Cameron para intensificar o rigor da política migratória local.

Crise migratória na Europa


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