Folha de S. Paulo


Milhares vão às ruas na Guatemala para pedir renúncia do presidente

Aos gritos de "Renuncie já!", milhares de pessoas, lideradas por universitários, marcharam nesta quinta-feira (27) por mais de oito horas e sob chuva na capital da Guatemala para exigir a saída do presidente Otto Pérez Molina, cujo governo se encontra cada vez mais debilitado e isolado devido ao seu suposto envolvimento em uma fraude fiscal.

Até as 0h30 de sexta (hora de Brasília), os manifestantes seguiam nas ruas da Cidade da Guatemala.

O presidente, contudo, deu declarações na noite de quinta de que não deixaria o cargo. "Quero dizer a todos os guatemaltecos que estou aqui. Seguirei à frente do país, não vou fugir", disse, em entrevista à emissora local Radio Sonora.

Luis Echeverria/Xinhua
Manifestantes tomaram as ruas da Cidade da Guatemala nesta quinta (27) para pedir a renúncia do presidente
Manifestantes foram às ruas na Cidade da Guatemala na quinta (27) para pedir a renúncia do presidente

"Otto, a prisão te espera", "A corrupção está tirando nossas vidas", "Otto ladrão", diziam alguns dos cartazes que os manifestantes levavam durante a marcha que saiu da sede central da USAC, na periferia sul da capital, até o centro histórico, onde se unirá aos protestos de outros manifestantes que repudiam Pérez.

"Esta é uma marcha histórica, o presidente é um covarde e já não representa a unidade nacional", declarou o estudante Iván Castillo, um dos milhares de indignados que se uniram à marcha.

Pérez Molina foi relacionado na última sexta (21) a uma rede criminosa conhecida como "La Línea", que cobrava propina de empresários para burlar o pagamento de impostos alfandegários.

A fraude foi revelada no dia 16 de abril pela Procuradoria e a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), uma organização ligada à ONU.

QUADRILHA

Segundo a Procuradoria, o presidente é um dos líderes da quadrilha que montou o esquema junto à ex-vice-presidente Roxana Baldetti, que renunciou ao cargo e se encontra em prisão preventiva em um quartel militar da capital, de onde será transferida para uma prisão comum para mulheres.

Enquanto as manifestações aconteciam na capital, outros grupos de manifestantes optaram por bloquear ao menos dez rodovias no oeste e no norte do país.

Ao pedido das ruas a favor da renúncia de Pérez se somaram nas últimas horas a Procuradoria Geral da Nação e a Controladoria Geral de Contas.

A Procuradoria Geral, entidade que atua como representante legal do Estado, recomendou nesta quarta (26) a Pérez Molina que renuncie para evitar que o país entre em um período de instabilidade política pelo descontentamento popular.

A Controladoria Geral de Contas da Guatemala (CGCG), entidade fiscalizadora dos gastos públicos, se somou à petição, ao afirmar que "para manter a paz social" e evitar "consequências insuspeitas", o presidente deve renunciar ao cargo.

IMUNIDADE

Com sua ex-vice-presidente em prisão preventiva, como parte da investigação pela fraude, Pérez se encontra em uma encruzilhada legal depois que a Suprema Corte de Justiça aceitou iniciar, por pedido da Procuradoria e da Controladoria, o trâmite parlamentar para lhe tirar a imunidade e assim poder submetê-lo à justiça.

O Congresso da Guatemala integrou nesta quinta-feira uma comissão investigadora, que será a encarregada em analisar se retira ou não a imunidade do presidente.

O presidente do Congresso, Luis Rabbé, comentou que os cinco deputados que integram a comissão foram selecionados por sorteio realizado em plenário durante uma sessão ordinária.

Rabbé explicou que os deputados que integram a comissão são os governistas Gloria Sánchez e Mario Linares, que a preside, e os opositores Jorge Barrios, Sergio Celiz e Nineth Montenegro.

Agora, a comissão investigadora tem até 60 dias para analisar o expediente e apresentar um informe no qual recomendará se é ou não conveniente tirar a imunidade de Pérez.

Em janeiro passado, o mesmo Congresso recusou-se a tirar a imunidade do presidente, em uma ação promovida pelo deputado indígena opositor, Amílcar Pop, pelos mesmos crimes, quando o governante não tinha sido vinculado oficialmente à máfia da fraude fiscal.


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