Folha de S. Paulo


Dezenas de corpos de imigrantes em decomposição são achados na Áustria

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A polícia austríaca encontrou nesta quinta (27) ao menos 20 corpos de imigrantes dentro de um caminhão estacionado no acostamento de uma estrada no país que liga a capital à Hungria.

Como os cadáveres foram encontrados em estado parcial de decomposição, o número de mortos pode chegar a 50, de acordo com a polícia. A identidade dos corpos também é difícil de ser aferida, segundo as autoridades.

O caminhão-frigorífico, de placa húngara, foi provavelmente abandonado na quarta-feira com a porta da caçamba aberta, deixando os corpos parcialmente expostos, a cerca de 40 km de Viena, perto da cidade de Neusiedl-am-See.

O porta-voz da polícia, Helmut Marban, disse que policiais chegaram ao local onde o veículo havia sido abandonado pensando se tratar de uma falha mecânica, quando viram "sangue pingando" da porta e "notaram o cheiro de cadáveres".

Dieter Nagl/AFP
Forensic officers stand in front of a truck inside which where found a large number of dead migrants on a motorway near Neusiedl am See, Austria, on August 27, 2015. The vehicle, which contained between 20 and 50 bodies, was found on a parking strip off the highway in Burgenland state, police spokesman Hans Peter Doskozil said at a press conference with Interior Minister Johanna Mikl-Leitner. AFP PHOTO / DIETER NAGL ORG XMIT: agz1463
Peritos em frente a caminhão abandonado com corpos de imigrantes na Áustria

O chefe da polícia da região, Hans Peter Doskozil, disse que "muitas coisas indicam" que os imigrantes podem ter morrido antes de que o caminhão entrasse em território austríaco. Para ele, os responsáveis por levar o veículo à Áustria já devem ter saído do país.

O veículo foi retirado da rodovia e colocado num galpão seguro, segundo Doskozil. Os peritos reabririam à noite o compartimento onde os corpos se encontram, já com a temperatura ambiente mais amena, para preservá-los.

A retirada dos restos mortais deve durar toda a noite e, após concluída, os corpos devem ser enviados a Viena para autópsia.

As autoridades se recusaram a fornecer qualquer informação adicional sobre o número exato de corpos, a causa da morte, bem como sua data e hora, ou se havia crianças entre os restos encontrados.

Apesar da placa da Hungria, os escritos nas laterais e traseira do caminhão estão em eslovaco. A empresa cujo logotipo está estampado no veículo, a Hyza, da Agrofert Holding, afirma que vendeu o caminhão em 2014 e solicitou que os adesivos fossem retirados.

A Hungria diz que a placa está registrada no nome de uma pessoa física de nacionalidade romena.

CÚPULA

A chanceler alemã, Angela Merkel, que estava em visita a Viena, se pronunciou sobre o caso, dizendo-se "abalada". "Estamos todos abalados por essas notícias terríveis", afirmou. "Isso nos lembra que precisamos dar conta rapidamente da questão imigratória, em um espírito europeu, ou seja, de solidariedade."

Merkel se encontrava em uma reunião de cúpula na capital austríaca cujo tema era justamente a crise migratória causada pelo fluxo de refugiados de zonas de conflito que chegam ao continente via Leste Europeu.

O cardeal austríaco Christoph Schoenborn confirmou a realização de uma missa na noite da próxima segunda (31), no horário local, em memória dos mortos. Os sinos de todas as igrejas da cidade devem bater simultaneamente em homenagem a eles.

Um minuto de silêncio foi realizado durante o evento em memória das vítimas cujos corpos foram descobertos no caminhão.

Desde o início de 2015, a Acnur (Agência da ONU para refugiados) estima que 264,5 mil imigrantes tenham cruzado o Mediterrâneo para chegar ao continente europeu.

Estima-se que a apenas a Grécia tenha recebido 50 mil pessoas em julho, cerca de 7.000 a mais do que em todo o anos de 2014. A maioria provém de zonas de conflito na Síria, Iraque e Afeganistão, buscando refúgio.

CRIMINOSOS

"Traficantes de pessoas são criminosos", afirmou a ministra austríaca do Interior, Johanna Mikl-Leitner, em nota. "Aqueles que ainda pensam que são ajudantes caridosos de refugiados não podem mais ser recuperados."

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, criticou a demora dos países membros da UE em dar uma solução à crise migratória. "Devemos sair do jogo de culparmos uns aos outros para a real cooperação. Nós entendemos muito bem que não podemos continuar assim, com um minuto de silêncio todas as vezes que vemos as pessoas morrendo."

Janos Lazar, chefe de gabinete do premiê húngaro, Viktor Orban, criticou a União Europeia por não impor um controle de fronteira mais rígido —a Hungria é uma das principais portas de entrada de refugiados, apesar de ter uma cerca física instalada na fronteira com a Sérvia.

"Os desdobramentos dos últimos dias mostram que a UE é incapaz de defender suas fronteiras", declarou.


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