"Pragmatismo" talvez seja uma das melhores palavras para definir a chanceler que comanda desde 2005 a economia mais forte da Europa.
O cientista político Gero Neugebauer, da Universidade Livre de Berlim, destaca o estilo estrategista e de paciência adotado por Angela Merkel, 61, como fatores que a tornaram a primeira mulher a comandar o país.
Um protagonismo que faz a revista "Forbes" considerá-la a mulher mais poderosa do planeta desde 2006, com exceção de 2010.
"Ela costuma esperar até obter uma boa oportunidade para realizar o que deseja, vai coletando pacientemente todas as informações de que precisa antes de decidir. É boa de tática, tem poder de negociação", diz Neugebauer.
Merkel ganhou o apelido de "Mutti" da nação (mamãe, em alemão), sem nunca ter sido, de fato, uma liderança carismática e de discursos inflamados. Optou por estilo de comunicação conciso (às vezes, entediante) para transmitir confiança aos alemães.
| Ralph Orlowski/Reuters | ||
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| Ao lado do marido, Joachim Sauer, Merkel acena em um festival de ópera na Alemanha |
"Poucas palavras, para ela, dizem mais do que confundir as pessoas com muitos detalhes. Merkel diz: 'Me sigam e confiem em mim, e vamos atravessar essa crise'", afirma o professor.
Recentemente, a chanceler protagonizou uma polêmica ao levar uma palestina de 14 anos ao choro por dizer que a Alemanha não daria conta de todos os refugiados que querem ficar no país.
A carreira política de Merkel deslanchou em 1990, ao ser eleita pela primeira vez para o Parlamento, logo após a queda do Muro de Berlim e da reunificação alemã.
Naquela década, foi ministra do ex-chanceler Helmut Kohl, de quem é uma espécie de "cria política". Desde que tomou o controle do seu partido, o CDU (União Democrata Cristã), em 2000, sufocou qualquer crescimento de um rival interno ou da oposição.
Foi eleita em 2013 para um terceiro mandato como chanceler após seu partido formar uma coalizão com o SPD (Partido Social Democrata) —uma base aliada que agora começa a criar problemas para a chanceler.
Merkel foi elevada nos últimos anos pela mídia europeia a líder incontestável no continente, ofuscando a atuação dos colegas David Cameron (premiê do Reino Unido) e François Hollande (presidente da França).
Virou símbolo da defesa da austeridade do bloco europeu para enfrentar a recessão, encarou os EUA no episódio da espionagem e protagonizou as negociações em torno do conflito na Ucrânia e do socorro à combalida Grécia.
Nascida em Hamburgo, Merkel cresceu numa pequena cidade da Alemanha Oriental, lado comunista do país dividido pela Guerra Fria.
Formou-se em física pela Universidade de Leipzig e fala russo fluentemente, o que facilita, por exemplo, seu diálogo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Filha de um pastor protestante, ela herdou o sobrenome Merkel do ex-marido, um professor de física, com quem foi casada entre 1977 e 1982.
Desde 1998, é casada com o químico (e discreto) Joachim Sauer.