Folha de S. Paulo


Rapper Kendrick Lamar simboliza movimento negro nos EUA

Rich Fury - 8.ago.2015/Associated Press
Kendrick Lamar se apresenta em festival de música em São Francisco, Califórnia, no dia 8
Kendrick Lamar se apresenta em festival de música em São Francisco, Califórnia, no dia 8

No final de julho, ativistas negros protestavam contra a prisão de um menino de 14 anos em Cleveland, Ohio, quando a polícia chegou para reprimir o ato com spray de pimenta.

Não houve dispersão. Ao contrário, a comunidade, que tem traumas por mortes relacionadas a policiais, intensificou o protesto. Começou a cantar o refrão do rap "Alright", de Kendrick Lamar:

"Nigga, we gon'be alright / Nigga, we gon'be alright / We gon'be alright / Do you hear me, do you feel me? We gon'be alright"

Em inglês coloquial, quer dizer: "Nego, vai ficar tudo bem. Você me ouve? Você me entende? Vai ficar tudo bem".

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Em meio à escalada de conflitos raciais nos Estados Unidos, a canção de Lamar, 28, se tornou uma espécie de hino do movimento. Seu mais novo disco, "To Pimp a Butterfly", lançado em março, foi considerado pela crítica como a melhor produção do rap americano em anos.

O clipe de "Alright" tem imagens poderosas. Na última cena, um policial branco faz um gesto como se estivesse atirando com as mãos contra Lamar, que cai de cima de um poste de luz, sangrando, mas, como se fosse uma revanche, ele não morre.

O rapper disse ao jornal britânico "The Guardian" que suas músicas são uma consequência dos conflitos e refletem sua identidade como parte da comunidade negra americana.

"Está no seu sangue, entende? Porque eu sou Trayvon Martin. Eu sou todas essas crianças. Está implantado no seu cérebro para que saia pela sua boca assim que você vê pela TV. O incidente é só o estalo para mim."

Trayvon Martin tinha 17 anos quando foi morto, em 2012, em Sanford, Flórida, por um segurança que acabou inocentado.

"Negros que vivem em certos bairros nos Estados Unidos têm mais chances de ir para a prisão do que para a universidade", afirma Tshombe Miles, professor da Cuny (Universidade da Cidade de Nova York).

Negros representam 50% da população carcerária, mas apenas 12% da população total do país, afirma.

A questão racial está no centro do debate público nos Estados Unidos. Pesquisa do jornal "The New York Times" divulgada em maio mostrou que 61% dos americanos acreditam que as relações raciais no país são ruins.

O número está acima dos 44% registrados em agosto do ano passado, logo após o assassinato de Michael Brown, 18, em Ferguson (Missouri), pela polícia.


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