Folha de S. Paulo


Efeito Trump afeta popularidade de republicanos entre mulheres nos EUA

A imagem do Partido Republicano perante o eleitorado feminino sofreu desgaste após o debate dos pré-candidatos da oposição, na última semana, com declarações polêmicas do magnata Donald Trump e a veemente oposição conservadora ao aborto.

O empresário reagiu de modo considerado desrespeitosa até por quadros de seu partido ao ser questionado pela mediadora Megyn Kelly sobre ter chamado uma comediante de "porca gorda".

Em resposta, Trump insinuou que Kelly foi agressiva porque estaria menstruada. Nos últimos dias, o pré-candidato tem tentado minimizar a polêmica, dizendo que a imprensa a inflamou.

O partido também busca limitar efeitos colaterais, distanciando sua imagem —Trump foi desconvidado de um evento de conservadores e ouviu reclamações de líderes partidários.

Apesar do esforço de mitigar o episódio, uma nova pesquisa indica perda de votos.

Levantamento do instituto Rasmussen feito em 9 e 10 de agosto, com margem de erro de quatro pontos percentuais, mostra Trump com 17% das preferências. Em 29 de julho, ele tinha 26%.

Sua vantagem sobre o segundo colocado (em julho, o governador de Wisconsin, Scott Walker; agora, o ex-governador da Flórida, Jeb Bush) foi de 12 para 7 pontos.

Entre as mulheres, o apoio caiu de 22% para 14%. Entre os homens, de 30% para 19%. Mais da metade dos eleitores americanos (53%) são mulheres, e o Partido Republicano padece de um deficit histórico de apoio feminino.

Curiosamente, a maior beneficiada pela queda de Trump parece ter sido a única mulher no páreo republicano, a executiva Carly Fiorina, que saltou de 1% para 9% das preferências, seguida do filho de cubanos Marco Rubio, que pulou de 5% para 10% (Trump critica imigrantes, sobretudo os mexicanos).

Eles estão agora, respectivamente, em terceiro (empatada com Walker) e segundo lugar (empatado com Bush).

Em entrevista à CNN, nesta terça (11), Trump negou que a polêmica o atrapalhará nas pesquisas. "Sempre fui bom para as mulheres, e não haverá presidente melhor para elas [do que eu]", afirmou. Ele ressaltou sua oposição ao aborto, exceto em casos de estupro e de incesto.

FORÇA POLÍTICA

Os republicanos não têm maioria entre as mulheres desde 1988. Na reeleição de Barack Obama, em 2012, o apoio feminino foi fundamental. Apesar dos esforços do republicano Mitt Romney, Obama as conquistou ao propor benefícios trabalhistas e médicos.

No caso de Trump, o público feminino já não era um alicerce. Pesquisa da CBS News anterior ao debate dizia que 62% das americanas (e 42% das republicanas) não têm uma visão positiva dele.

Isso deverá ser explorado por Hillary Clinton, favorita na disputa democrata e que pode vir a enfrentá-lo. Sua campanha combate o discurso conservador antiaborto (inclusive em casos de risco de morte da mãe, para alguns candidatos).


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