Folha de S. Paulo


Jovem negro é ferido por policial após dia de protestos em Ferguson

Um jovem negro de 18 anos ficou gravemente ferido por disparos da polícia após um dia de pequenas manifestações pacíficas que terminou com uma noite de vigília em memória do jovem Michael Brown, cuja morte completou um ano neste domingo (9).

Segundo o chefe policial de St. Louis, Jon Belmar, o jovem foi baleado pelos agentes de segurança após abrir fogo em um protesto na madrugada desta segunda-feira (10).

No entanto, Tyrone Harris, pai do jovem ferido, disse à agência de notícias Associated Press que seu filho estava desarmado e que as alegações das autoridades são "um monte de mentiras".

Ele também afirmou que a polícia disparou entre oito e 12 tiros contra seu filho, que estaria "correndo por sua vida" quando foi alvejado pelos agentes.

Também de acordo com a polícia do condado de St. Louis, alguns manifestantes lançaram pedras e garrafas contra os policiais. Fotos divulgadas no Twitter mostraram pelo menos dois automóveis com buracos de bala.

Ao final de uma marcha pacífica que reuniu quase 300 pessoas, a tensão cresceu quando um grupo de 50 cidadãos saqueou uma loja de produtos de beleza, o que provocou confrontos com a polícia.

Rick Wilking/Reuters
Manifestantes deitam no chão durante disparos em Ferguson, nos EUA
Manifestantes deitam no chão durante disparos em Ferguson, nos EUA

No início da vigília, duas pombas brancas foram soltas no meio da multidão, reunida para lembrar o aniversário de morte do jovem de 18 anos, em 9 de agosto de 2014, vítima de disparos do policial Darren Wilson.

Trezentas pessoas guardaram silêncio durante quatro minutos e meio pelas quatro horas e meia durante as quais o corpo de Brown ficou na rua até que as autoridades o levassem. Pela primeira vez em três dias de manifestações, as forças policiais acompanharam o evento vestidas em trajes de choque.

Essa morte em Ferguson (subúrbio de St. Louis, Missouri) desencadeou uma onda de protestos e uma investigação sobre os excessos da polícia, que em vários casos levaram à morte de jovens negros desarmados.

Muitos vestiam camisetas nas quais se podia ler "Escolha a mudança" ou cartazes que diziam "Chega de matar meninos negros".

Depois dos minutos de silêncio, a multidão seguiu em uma marcha silenciosa até a igreja de Saint Mark, que serviu de refúgio durante os protestos que se seguiram à morte de Brown.

PROGRESSO LENTO

Um ano depois, alguns líderes afirmam ter sido testemunhas de mudanças significativas na atitude dos americanos com relação aos temas raciais, mas lamentam ter visto poucas iniciativas dos legisladores para fazer reformas políticas.

Cornell William Brooks, presidente da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), um dos grupos de direitos civis mais antigos do país, disse no domingo à emissora CBS que as mentalidades mudaram muito, mas que as reformas para obrigar a polícia a prestar contas e formar melhor os agentes avançavam em um ritmo "glacial".

No sábado (8), centenas de pessoas protestaram pelas mesmas avenidas de Ferguson onde, em novembro, houve distúrbios depois que um tribunal decidiu não processar o policial branco que atirou no rapaz.

Embora a marcha tenha sido pacífica e até crianças tenham participado, à tarde a tensão aumentou, e os manifestantes ficaram mais agressivos. Alguns pularam as cercas de proteção para desafiar os policiais e umas 200 pessoas gritaram em frente à sede da polícia: "Esses policiais assassinos têm de ir embora!"

Os manifestantes repetiam palavras de ordem como "Mãos para o alto, não atire!" e "Por quem fazemos isto? Fazemos por Mike Brown".

Anteriormente, o pai de Brown declarou aos meios de comunicação que dedicava todo o seu esforço a "manter viva a memória" do filho, fazendo "tudo o possível para fortalecer" a comunidade negra.


Endereço da página:

Links no texto: