Folha de S. Paulo


Opositor Mauricio Macri vende gestão eficiente contra 'velha política'

Numa madrugada fria de 1991, o filho do empresário Franco Macri chegava à sua casa, numa área nobre de Buenos Aires, quando foi abordado por desconhecidos. Primeiro, levou um soco na cara. Encapuzado e amordaçado, foi metido numa kombi e sequestrado.

Então com 32 anos, o engenheiro Mauricio Macri já trabalhava numa das empresas da família (o Grupo Macri, um dos mais importantes do país, que atua em construção, indústria automobilística, alimentação e coleta de lixo).

Nos doze dias de cativeiro, falava apenas com o homem que lhe trazia comida e gostava de conversar sobre futebol. O sujeito dizia ser torcedor do Boca Juniors, o clube mais popular da Argentina. Numa dessas ocasiões, para ganhar sua confiança, Macri lhe disse: "Sabe de uma coisa? Quando eu sair daqui, vou ser presidente do Boca".

O sequestro terminou quando seu pai pagou o resgate de US$ 6 milhões. Quatro anos depois, Macri cumpriu a promessa e venceu as eleições para dirigir o Boca –cargo que ocupou até 2007.

O sucesso no comando do Boca o animou para se lançar à vida pública. A imprensa passou a compará-lo a Silvio Berlusconi, proprietário do Milan e ex-premiê da Itália.

Politicamente, Macri passou a se vender como um homem que fora capaz de superar uma adversidade sozinho, alcançar seu sonho e ser um bom gestor.

Eleições na Argentina

Em, 2005, Macri criou o PRO (Proposta Republicana), que se propunha a ser uma alternativa moderna e "não ideológica", contrapondo-se aos partidos tradicionais (o peronista e a União Cívica Radical).

Oportunamente, o grupo pegou carona no grito das ruas, que, por conta da grave crise econômica de 2001, pedia que os políticos simplesmente se mandassem ("que se vayan todos!").

Macri ocuparia esse vazio, defendendo um discurso de eficiência de gestão no lugar da tradicional política, apontada como corrupta e baseada em velhos conchavos.

Em 2007, esse discurso o elegeu pela primeira vez como chefe de governo da cidade de Buenos Aires. O cargo é muito mais relevante que o de um simples prefeito. A capital argentina tem status de "cidade autônoma" e seus próprios ministérios.

Macri criou ciclovias e faixas exclusivas de ônibus, melhorando o fluxo do trânsito na região central. Também alterou regras de zoneamento e favoreceu uma explosão imobiliária em toda a cidade, inclusive em bairros antigos.

Essas medidas provocaram protestos de organizações de proteção ao patrimônio e geraram uma campanha contra ele nas redes sociais.

Macri utiliza seu cargo para fazer oposição aberta a Cristina Kirchner. Já lançou ataques à política econômica intervencionista da presidente, ao cerco do governo ao dólar e às estatizações —recentemente, foi criticado por dizer que a petrolífera YPF e a Aerolíneas Argentinas poderiam seguir sendo do Estado.

O mau desempenho econômico do país possibilitou que Mauricio concentrasse o sentimento antikirchnerista da classe média e alta urbanas.

Ao mesmo tempo, porém, perdeu apoio de parte importante do empresariado aliado ao kirchnerismo. Seu próprio pai, hoje aos 85, não o apoia publicamente. Franco Macri afirmou que preferia que alguém do La Cámpora (base de apoio do governo) ocupasse a Presidência.

Em momentos tensos vividos em Buenos Aires, como inundações ou "apagões", Macri foi pouco ágil, quando não estava fora do país, assistindo a shows de bandas de rock ou vendo partidas da Liga dos Campeões, na Europa.

Em 2011, chegou a manifestar vontade de se candidatar contra Cristina, mas desistiu, preferindo concorrer a uma segura reeleição em Buenos Aires. A vitória com mais de 60% dos votos não apagou a impressão de que havia "amarelado" da competição principal. Agora, tentará desfazer a imagem.


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