Folha de S. Paulo


Defensor de assentamentos será novo embaixador de Israel no Brasil

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, anunciou nesta quarta (5) ter apontado como próximo embaixador israelense no Brasil o empresário argentino naturalizado israelense Dani Dayan, 59, considerado um dos maiores defensores das colônias israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental e opositor à criação de um Estado palestino ao lado de Israel.

Dayan vai substituir o diplomata, poeta e historiador Reda Mansour, o atual representante do país em Brasília, no cargo há apenas dez meses.

Rina Castelnuovo/The New York Times
Dani Dayan, no assentamento de Eli, em 2012; ele foi apontado como o próximo embaixador no Brasil
Dani Dayan, no assentamento de Eli, em 2012; ele foi apontado como o próximo embaixador no Brasil

Segundo fontes diplomáticas, Mansour -que faz parte da minoria drusa em Israel- teria decidido deixar Brasília prematuramente por motivos pessoais e estaria sendo cotado para representar Israel em fóruns internacionais.

Nascido em Buenos Aires, Dani Dayan, que mora no assentamento de Ma'ale Shomron, no Norte da Cisjordânia, imigrou para Israel aos 15 anos. Ele presidiu entre 2007 e 2013 o Conselho Yesha (que representa os 500 mil colonos israelenses) e hoje ocupa o cargo formal de enviado-chefe do conselho para a comunidade internacional. Dayan, que é secular, o que contrasta com outros líderes colonos (que são religiosos), condena publicamente a violência de colonos contra palestinos ou soldados israelenses e é considerado pragmático.

O anúncio da nomeação foi feito por Netanyahu por meio do Twitter horas depois de Reda Mansour, que esteve em Israel para conversar sobre sua substituição, embarcar de volta a Brasília, onde deve ficar até outubro. "Nomeei Dani Dayan como embaixador para o Brasil. Estou certo de que ele vai conseguir fortalecer as relações entre Israel e Brasil", tuitou o premiê, atualmente também chanceler de Israel.

O Ministério das Relações Exteriores enfatizou que tem como objetivo "desenvolver os laços comerciais com mercados internacionais na América do Sul, especialmente o Brasil", que tem "uma população crescente de mais de 40 milhões de cristãos pró-Israel".

"Aceitei o desafio do primeiro-ministro de aprofundar e melhorar as reações entre Israel e Brasil. Prometi que não mediria esforços ou criatividade no cumprimento da tarefa estratégica", afirmou Dayan em nota, complementando com uma brincadeira: "Mesmo que não tenha me comprometido que ganhemos uma medalha de ouro na Olimpíada do Rio, todos esperamos que isso aconteça".

SURPRESA

A nomeação de Dayan surpreendeu não só por causa da volta prematura do atual embaixador, mas pelo fato de o próximo representante ser ativista em prol dos assentamentos israelenses em territórios palestinos, considerados ilegais pelo Brasil e pela comunidade internacional como um todo. O jornalista Barak Ravid disse que a nomeação do empresário foi uma das "melhores que Netanyahu tomou nos últimos seis anos, senão a melhor", porque Dani Dayan é "honesto, liberal e profissional". Mas ativistas de esquerda reclamaram.

"Só um primeiro-ministro da direita pode tirar um colono de sua casa, enviá-lo a um outro país e ainda receber salvas de palma da direita", tuitou Yariv Oppenheimer, presidente da ONG Paz Agora.

Formado em economia e computação, Dayan serviu por sete anos no Exército israelense, do qual saiu com cargo de major. Depois do serviço militar, ele fundou a empresa de tecnologia da informação Elad Systems (da qual se afastou em 2004). A partir de 2005, voltou para a política (ele já havia se candidata ao Parlamento anteriormente) e se tornou presidente do Conselho Yesha, do qual já fazia parte como membro do comitê executivo.

Há um ano, no auge do mais recente conflito entre Israel e o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, o Itamaraty chamou de volta a Brasília, para consultas, e embaixador do Brasil em Tel Aviv. Em resposta, o então assessor de imprensa da chancelaria israelense, Yigal Palmor, classificou o Brasil de "anão diplomático".


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