Folha de S. Paulo


Reabertura de embaixadas coroa reaproximação entre EUA e Cuba

Yamil Lage/AFP
À esquerda: Em 2006, Cuba ergue bandeiras pretas em protesto diante de missão dos EUA em Havana; À direita: em 2015, bandeira cubana é hasteada diante de embaixada, reaberta nesta segunda-feira (20)
Claudia Daut - 6.fev.2006/Reuters
Em 2006, Cuba ergueu bandeiras pretas em sinal de protesto diante da embaixada dos EUA; em 2015, países retomam relações diplomáticas, encerrando mais de 54 anos de hostilidades

Desde as 0h01 desta segunda-feira (20), EUA e Cuba têm normalizadas suas relações bilaterais, dando fim a mais de 50 anos de hostilidade.

Para coroar a histórica reaproximação anunciada em dezembro, uma cerimônia oficial ocorrerá na antiga seção de interesses e agora embaixada cubana em Washington com membros do governo, artistas e empresários.

Apesar de não haver evento público previsto em Havana, a seção de interesses americanos na capital voltará a funcionar como embaixada no mesmo dia, o que implica importantes mudanças na atividade da representação.

Dezenas de funcionários americanos estacionados no local passam a poder circular pelo território cubano e dialogar com a sociedade sem necessidade de permissão. Até então, funcionários estavam restritos a Havana e não podiam conversar com cubanos fora da seção.

O controle de acesso passa a ser feito por agentes americanos, e não mais por cubanos, que revistavam e interrogavam as pessoas que entravam na representação.

O policiamento nas redondezas será reduzido. A mala diplomática, na qual circulam correspondências e pertences oficiais da delegação, torna-se inviolável.

Os chefes das seções de interesses de Cuba e EUA nas respectivas capitais se tornam encarregados de negócios, título dado a diplomatas que chefiam uma missão na ausência do embaixador.

Editoria de Arte/Folhapress

As mudanças selam uma reviravolta na história da representação, um sisudo prédio de seis andares situado na beira do mar que separa Cuba da Flórida –o ponto mais próximo, Key West, encontra-se a apenas 170 km.

A representação foi praticamente desativada em 1961, quando os EUA romperam relações com a ilha. Em 1977, passou a funcionar como seção de interesses americanos sob mediação suíça.

O entorno do escritório guarda marcas visíveis da tensão bilateral. Em 2000, em meio à disputa pela guarda do menino Elián González, resgatado no mar ao tentar entrar ilegalmente nos EUA, o então ditador Fidel Castro ordenou a construção de uma "tribuna anti-imperialista" em frente ao prédio.

Cuba

Em 2006, quando os americanos passaram a emitir mensagens opositoras em telões na fachada do prédio, Fidel mandou erguer mais de cem mastros na frente do local. Isso formou uma espécie de floresta de bandeiras cubanas, hoje ausentes, assim como os telões.

Apesar da importância do evento, há poucos sinais visíveis da mudança. Postes em volta da representação ganharam pintura nova.

Equipes de televisão estão posicionadas ao lado do prédio apesar de não estar claro se haverá cerimônia para hastear a bandeira americana.

Os EUA anunciaram na última sexta (17) que o símbolo só será içado em visita do secretário de Estado John Kerry nas próximas semanas.

O clima, porém, é de otimismo. "Acho que será bom para os dois países", diz à Folha um policial em frente à representação americana.

Cuba e EUA concordaram em priorizar inicialmente a reabertura da embaixada cubana em Washington.

A bandeira cubana será hasteada e o hino nacional, executado, no coração da capital americana, algo impensável há menos de um ano. Kerry receberá o chanceler cubano, Bruno Rodríguez.

O Departamento de Estado deixou claro que temas espinhosos, como a situação dos direitos humanos em Cuba, serão abordados na conversa entre Kerry e Rodríguez.

Pelo lado cubano, o incômodo é em relação ao embargo comercial americano, que continua sem previsão de ser levantado. O jornal oficial "Granma" insiste em que as relações só estarão plenas após o fim do bloqueio.

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REAPROXIMAÇÃO
O que muda com a reabertura da embaixada dos EUA em Havana

- Diplomatas americanos não precisam mais de permissão para circular e falar com população

- Controle de acesso à representação passa a ser feito por americanos

- Número de policiais cubanos nos arredores da representação será reduzido

- Mala diplomática passa a ser inviolável

- Bandeira dos EUA será içada em data a ser definida


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