Folha de S. Paulo


Mercosul assina protocolo para adesão da Bolívia como membro pleno

O Mercosul ganhou seu sexto membro pleno nesta sexta-feira (17), com a oficialização, após três anos de espera, do ingresso da Bolívia.

A decisão, selada na cúpula do bloco comercial realizada em Brasília, ainda passará pela aprovação do Congresso no Brasil e no Paraguai, mas a expectativa é de que o aval venha em breve.

Evaristo Sa/AFP
Presidente da Bolívia, Evo Morales, chega ao palácio do Itamaraty para cúpula do Mercosul
Presidente da Bolívia, Evo Morales, chega ao palácio do Itamaraty para cúpula do Mercosul

Além do acordo para a adesão da Bolívia ao bloco, os chanceleres dos países integrantes assinaram a inclusão, como membros associados, de Guiana e Suriname.

Desta forma, além dos seis membros plenos –Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela e Bolívia–, o bloco passa a incluir, como associados, todos os demais países da América do Sul.

Economia Mercosul

"É o fortalecimento do Mercosul", afirmou a presidente Dilma Rousseff durante almoço com os demais mandatários do bloco no Itamaraty. "Para a Bolívia é uma grande alegria que, após três anos, sejamos aceitos como membro pleno", disse o presidente Evo Morales.

Em 2012, os integrantes do bloco já haviam apoiado o ingresso do país andino, mas o processo parou porque o Paraguai estava suspenso, como sanção dos demais membros do Mercosul após o impeachment sumário do então presidente, Fernando Lugo.

"Temos muita confiança no Mercosul para continuarmos nos desenvolvendo junto a vocês", disse Morales, ressaltando a importância da integração econômica.

Embora esteja em crescimento há sete anos, a Bolívia tem o segundo menor PIB entre os países membros, superior apenas ao do Paraguai –US$ 34,4 bilhões em 2014 (leia quadro acima).

Para comparação, o Brasil teve o PIB estimado em US$ 2,3 trilhões no ano passado, ou quase 70 vezes o registrado do país vizinho.

Números Mercosul

FINANCIAMENTO

Uma vez confirmado seu ingresso, a Bolívia passa a ter acesso aos recursos do Focem (fundo para desenvolvimento do Mercosul), que anualmente dispõe de um volume de US$ 100 milhões.

O país já se beneficiou, de forma lateral, de ações mantidas pelo fundo: em 2014, por exemplo, integrou programa do Mercosul para erradicação da febre aftosa.

Agora, além do direito de usufruir do fundo, passa a ter a responsabilidade de contribuir para ele com um montante anual ainda não fixado.

Atualmente, o Brasil responde por 70% do Focem. Há outras questões que ficam em aberto.

Uma delas é a relação com o Chile, membro associado, com quem La Paz está rompida desde os anos 60, com uma breve retomada de 1975 a 1978, por causa da disputa territorial que envolve a saída boliviana para o mar, perdida em uma guerra com Santiago ainda no século 19.

Na semana passada, com a visita do papa Francisco à Bolívia, o chanceler chileno, Heraldo Muñoz, fez um aceno ao país vizinho. Mas seu colega boliviano, David Choquehuanca, respondeu que a saída para o mar é condição essencial para negociar.

O tema delicado acabou fora de declaração final do bloco, um documento de 74 pontos que versa sobre cooperação na saúde, Justiça, ambiente e fluxos de migração.

Porque o marco do Mercosul não abarca petróleo e gás, também não entrou no texto a questão do gás boliviano, que desgastou a relação entre Brasil e Bolívia na década passada, quando Morales nacionalizou o produto.

Reportagem da Folha em maio mostrou que, em 2014, a Petrobras perdeu R$ 872 milhões com um acordo negociado em 2007 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva com La Paz.

Um diplomata brasileiro, porém, afirmou que a entrada da Bolívia no bloco aumenta a segurança jurídica das empresas brasileiras que atuam no país vizinho.

Colaborou FABIANO MAISONNAVE, de São Paulo


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