Folha de S. Paulo


Amorim vê 'grão de areia' brasileiro em acordo nuclear com o Irã

O ex-chanceler Celso Amorim festejou duplamente o acordo sobre a questão nuclear iraniana.

Primeiro, pelo acordo em si, "um passo importante para resolver um problema crucial para a região e para a paz mundial".

Depois, pelo fato de o Brasil ter contribuído "com um grãozinho de areia" nesse dossiê, ao mostrar que "era possível ter um acordo".

É uma óbvia alusão ao fato de que o primeiro acordo nuclear com o Irã foi assinado em 2010, na gestão Lula/Amorim, envolvendo também a Turquia.

O ex-chanceler, um dos negociadores do acordo de 2010, diz que o Brasil abriu o caminho, ao "apostar sempre em uma solução positiva" —ou seja, no diálogo como contraposição ao confronto.

Amorim lamenta, no entanto, que o Ocidente tenha perdido tempo, ao torpedear o acordo Brasil/Turquia/Irã, para voltar ao caminho do diálogo apenas cinco anos depois.

É claro que o ex-chanceler não compara o acordo de 2015 com o de 2010. O atual, diz, é muito mais complexo.

Cita um dos elementos do acordo de cinco anos atrás, a transferência para a Turquia de 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido, para ser enriquecido a um nível que não poderia ser usado para chegar à bomba, mas serviria para fins pacíficos.

Naquela época —lembra Amorim—, o Irã tinha em estoque entre 2.000 e 2.200 quilos de urânio pobremente enriquecido.

Entregar 1.200 quilos foi, aliás, o pedido que o presidente Barack Obama fez em carta a Lula e ao então primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, enviada um mês antes da viagem dos dois governantes a Teerã.

Agora, completa Amorim, o Irã tem algo em torno de 10.000 quilos de urânio, o que torna "muito mais complexo" o transporte da quantidade que vier a ser acertada para enriquecimento externo.

A perda de tempo que o ex-chanceler lamenta fez com que "se deixasse de partir para um acordo em condições melhores".

Além disso, os cinco anos transcorridos tiveram "um custo econômico e humano enorme para o Irã".

Um segundo elemento para lamentar a perda de tempo é o fato de que, se o Ocidente tivesse se engajado no acordo Brasil/Turquia/Irã, para torná-lo mais abrangente, o país persa estaria colaborando há mais tempo com os Estados Unidos no combate ao terrorismo do Estado Islâmico (EI).

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PRINCIPAIS PONTOS DO ACORDO NUCLEAR COM O IRÃCompromissos assumidos por cada um

"Talvez o EI não tivesse assumido a importância que assumiu, se essa cooperação começasse mais cedo", suspira Amorim.

Hoje, embora ainda inimigos, Washington e Teerã estão do mesmo lado quando se trata de enfrentar o radicalismo islâmico.

De todo modo, Amorim se diz "feliz" com o acordo desta terça-feira (14), também por devolver o Irã ao convívio com a comunidade global, depois da quarentena imposta pelo problema nuclear.

"O Irã é fator fundamental para o novo equilíbrio regional a ser criado com esse acordo", diz Amorim.

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