Folha de S. Paulo


Vaticano e Bolívia minimizam polêmica sobre 'crucifixo comunista'

A Bolívia e o Vaticano afirmaram que a entrega de um "crucifixo comunista" pelo presidente Evo Morales ao papa Francisco na quarta-feira (8) não representou uma ofensa.

O presente trazia uma imagem de Jesus Cristo entalhada em madeira, numa cruz formada por uma foice e martelo, símbolo histórico do comunismo. Ao receber o presente, Francisco esboçou ter ficado surpreso.

Muitas pessoas viram a entrega do crucifixo como um desagravo de Morales, conhecido por fazer críticas à Igreja. Em 2009, Evo afirmou que a "Igreja Católica é um símbolo do colonialismo europeu e, portanto, deve desaparecer da Bolívia".

O governo da Bolívia disse que o presente não representou uma manobra política, mas um símbolo que, na visão de Morales, agradaria o "papa dos pobres".

"[O presente] representou um grande afeto, [trata-se] de uma obra desenhada pelas mãos de Luis Espinal", disse a ministra das Comunicações, Manianela Paco.

Espinal foi um jesuíta ligado a movimentos sociais bolivianos, assassinado em 1980 por paramilitares. Francisco visitou o local onde seu corpo foi encontrado e homenageou o religioso.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que não ficou ofendido com o gesto e que o papa inicialmente não sabia que o símbolo havia sido criado por Espinal.

"Você pode disputar o significado e o uso do símbolo hoje, mas ele foi criado por Espinal, e o seu sentido era sobre um diálogo aberto, não sobre alguma ideologia específica", disse Lombardi.

A entrega do crucifixo ocorreu durante visita do papa Francisco à Bolívia, o segundo dos três destinos do pontífice em sua viagem a países sul-americanos.


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