Folha de S. Paulo


A parceria Brasil e EUA no cinema dá um filme

O mercado americano de cinema ainda é o mais lucrativo do planeta e uma das razões envolve a política protecionista que dificulta parcerias entre os seus estúdios e as principais fontes de financiamento da maioria dos outros países –o dinheiro público.

Com a arrecadação dos cinemas subindo a passos de tartaruga nos Estados Unidos, cada vez mais os grandes produtores procuram parcerias internacionais, investidores com paixão, deslumbre ou visão de negócios para acordos financeiros.

Há 20 anos, dificilmente imaginaríamos uma produtora brasileira bancando vários filmes de cineastas importantes do cenário independente americano. Mas é o que acontece com a RT Features, do paulista Rodrigo Teixeira, que entrou com ajuda financeira em "Frances Ha" (2012) e "Mistress America" (inédito), de Noah Baumbach, "Movimentos Noturnos" (2013), de Kelly Reichardt, e "O Amor é Estranho", de Ira Sachs, escrito pelo brasileiro Mauricio Zacharias. Produtoras como a Swen ("Abelhas– Ataque Mortal") arriscaram com filmes de gênero nos EUA, mas não obtiveram tanto sucesso.

O contrário também é raro. Parcerias de coprodução eram raras no cinema nacional antes da retomada, nos anos 1990. Até Bruno Barreto, o primeiro dos mais "americanos" dos nossos cineastas, ganhou uma participação americana apenas em "O Que é Isso, Companheiro?", de 1997 –ela já havia feito dois filmes nos EUA. Hoje, o cinema brasileiro finalmente descobriu a América Latina e esse potencial para intercâmbio, mas ainda engatinha com o mercado dos EUA.

Com os investimentos em técnica e isenções de impostos, associações com produtoras americanas trouxerem investimentos no Brasil. "Anaconda" (1997), Luis Llosa, e "Brincando nos Campos do Senhor", de Hector Babenco, foram alguns dos longas filmados na Amazônia com dólares americanos. "Área Q" (2011) levou uma ficção científica de Los Angeles para o Ceará. Brendan Fraser ("A Múmia") filmou em São Paulo "12 Horas até o Amanhecer", um filme americano em cooperação com a produtora O2, de Fernando Meirelles.

Por outro lado, o ator Marcio Garcia se aventurou nos Estados Unidos em seus primeiros filmes como cineasta, criando "Amor por Acaso" (2010), financiado por produtores americanos, e "Angie" (2013), coprodução entre Brasil e EUA -ambos foram lançados diretamente em DVD fora do Brasil.

Walter Salles talvez seja o diretor que melhor trafega nesta parceria internacional com os Estados Unidos. Fez seu primeiro longa ficcional, "A Grande Arte" (1991), no Brasil, mas também com dinheiro norte-americano. Ele continuou a parceria em "Diários de Motocicleta" (2004) e "Na Estrada" (2012) –além de ter feito um filme de horror, "Água Negra" completamente dentro do sistema hollywoodiano. (RS)


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