Folha de S. Paulo


Depois de reatar laços, Brasil e EUA devem ter metas mais ambiciosas

Em um e-mail de 2009 enviado à então chanceler americana, Hillary Clinton, uma de suas assessoras divide os países que os EUA deveriam priorizar em três tipos: parcerias revitalizadas (aliados históricos); calibradas (rivais de peso político e econômico inescapável); e as cultivadas (emergentes cuja liderança regional ganhou eco global).

O Brasil era citado neste último grupo -países com os quais os EUA precisam ter laços, mas que exigem esforço.

De 2009 para cá, bastante coisa mudou. Luiz Inácio Lula da Silva, hábil em diplomacia presidencial, foi sucedido por Dilma Rousseff; a crise econômica que chegava ao país como marolinha se agigantou; e, sobretudo, veio à tona um esquema de espionagem com o qual Washington vigiava, entre outros líderes, a presidente brasileira.

Xinhua
A presidente Dilma Rousseff cumprimenta Barack Obama durante visitas ao EUA em 2012 e em 2015
A presidente Dilma Rousseff cumprimenta Barack Obama durante visitas ao EUA em 2012 e em 2015
Kevin Dietsch/Efe
ORG XMIT: BNA02 BNA02 WASHINGTON (EE.UU), 09/04/2012.- El presidente estadounidense Barack Obama (d) conversa con su homóloga brasileña Dilma Rousseff (i) durante un encuentro en el despacho Oval de la Casa Blanca en Washington, EE.UU hoy 9 de abril de 2012. Obama y Dilma Rousseff revisarán una amplia agenda bilateral con especial atención en la cooperación en comercio, energía y educación. EFE/Kevin Dietsch ****POOL***
ORG XMIT: BNA02 BNA02 WASHINGTON (EE.UU), 09/04/2012.- El presidente estadounidense Barack Obama (d) conversa con su homóloga brasileña Dilma Rousseff (i) durante un encuentro en el despacho Oval de la Casa Blanca en Washington, EE.UU hoy 9 de abril de 2012. Obama y Dilma Rousseff revisarán una amplia agenda bilateral con especial atención en la cooperación en comercio, energía y educación. EFE/Kevin Dietsch **POOL*

Nesse contexto, prometia ser tímida a visita que Dilma fez a Obama na última semana –um desconforto ainda maior do que o encontro de 2012, quando ficou claro que a relação era bem azeitada, mas carecia de imaginação.
Prometia, e assim foi em termos de acordos concretos. Difícil crer que a liberação da carne brasileira nos EUA e das parcerias pontuais de Defesa sejam macroconquistas.

Mas as declarações de apoio trocadas com aparente espontaneidade, e com peso inegável no jogo de cena global, mudaram esse saldo.

Obama foi além da elegância ao declarar enfaticamente sua confiança em Dilma. Ao fazê-lo, transferiu algo de seu crescente capital político a uma presidente muito longe de seu melhor momento.

Ela, por sua vez, mostrou não só nas palavras, mas na linguagem corporal, que crise de espionagem é passado.

Para além dos presidentes, trata-se do atestado do peso de um país para o outro.

Sim, os EUA têm aliados mais importantes –e continuarão tendo, por razões geopolíticas e econômicas. Isso não torna o Brasil prescindível em questões globais essenciais, como clima, saúde, crimes transnacionais e governança da internet.

Da mesma forma, o Brasil pode ter hoje na China seu maior cliente comercial, mas jamais poderá desprezar a superpotência onde vive um milhão de brasileiros e que compra 13% de suas exportações.

Agora que tudo voltou ao eixo, é hora de usar o mesmo pragmatismo para recalibrar as ambições. Se o casamento que era morno esquentou, é bom que frutifique.

Linha do tempo das visitas pre


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