Folha de S. Paulo


ANÁLISE

No jogo da popularidade, Obama marca 5 a 1 em Dilma

Na manhã desta terça (30), horas antes de Barack Obama e Dilma Rousseff falarem à imprensa na Casa Branca, o consórcio CNN/ORC soltou pesquisa de opinião em que, pela primeira vez desde 2013, o índice de aprovação do norte-americano bateu os 50%, uma subida de cinco pontos em um mês.

Os principais motivos para a melhora citados pelos ouvidos –1.017 adultos nos EUA, com margem de erro de três pontos– foram a recuperação da economia e o modo como o democrata vem lidando com as tensões raciais.

Dez dias antes, o Datafolha publicava que a porcentagem de reprovação de Dilma só não é pior que a de Fernando Collor (1990-1992) às vésperas do impeachment. Apenas 10% dos entrevistados classificaram o governo da petista de bom ou ótimo.

O levantamento nacional, que ouviu 2.840 pessoas e tem margem de erro de dois pontos, foi feito num momento em que se aprofunda a Operação Lava Jato, que apura um esquema de corrupção na Petrobras.

Na entrevista coletiva, os dois presidentes mencionaram a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro e um presente entregue por Dilma, um moletom com as cores do Brasil e o sobrenome "Obama" estampado, que ele afirmou que vestiria.

O 5 a 1 do americano sobre a brasileira no quesito popularidade interna ocorre em um contexto específico e inédito para ambos os mandatários.

Obama deveria estar seguindo o roteiro de "pato manco", como os americanos chamam o presidente em fim de segundo e último mandato, quando diminui o poder do cargo, mas não as obrigações institucionais.

Em vez disso, embalado pelos bons números de PIB e desemprego, tem aproveitado os últimos 19 meses de sua Presidência para avançar uma agenda ambiciosa, seja na política externa, em que a reaproximação de Cuba é um dos pontos altos, seja na interna, ao servir de mediador qualificado nos conflitos entre brancos e negros.

Já Dilma deveria estar em sua segunda lua de mel, os meses iniciais do segundo mandato, em que o incumbente tem um respiro para implantar sua nova agenda. Mas seu governo começou pelo fim, com um desgaste sem precedentes na história recente do Brasil.

Ela vê as acusações da Lava Jato chegarem perto do Palácio do Planalto e enfrenta um protagonismo quase irresistível do Legislativo, enquanto os principais indicadores econômicos do país começam a derreter.

Nesse contexto, os anúncios dos dois líderes foram previsivelmente tímidos.

O verdadeiro objetivo da visita, porém, sempre foi mais o degelo nas relações Brasil-EUA, o que parece ter acontecido, do que produzir avanços concretos na agenda bilateral.

Na falta de fato mais relevante para anunciar, os dois lados recorreram ao suspeito de sempre: o aquecimento global.


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