Folha de S. Paulo


'O verão foi embora', diz pescador de praia alvo de ataque na Tunísia

Um dia após o atentado que deixou 39 mortos no sul da Tunísia, flores eram deixadas na areia da praia neste sábado (27) diante de espreguiçadeiras vazias, como lembrança às vítimas. Diversos dos mortos eram britânicos, além de outros cidadãos europeus.

O atirador foi identificado pelo governo local como o estudante Saif Rezgui, 23. Testemunhas afirmam que ele vestia bermuda e havia escondido sua arma com um guarda-sol. O Estado Islâmico, que reivindicou a autoria do ataque de sexta, refere-se ao suspeito pelo pseudônimo de Abu Yahya al-Qayrawani.

A Folha percorreu a praia de Sousse, ao sul da capital, Túnis, onde encontrou moradores entre o estupor e a indignação. Uma turista líbia, que não quis dizer o seu nome, afirmava ter ido à cena do crime movida pela raiva.

Diogo Bercito/Folhapress
Flores deixadas diante do local do atentado em Sousse, na Tunísia
Flores deixadas diante do local do atentado em Sousse, na Tunísia

"Era sexta-feira, e ramadã [um dia importante no islã e seu mês sagrado]. Eu não pensei que alguma coisa assim pudesse acontecer."

O hotel Imperial Marhaba, onde o atirador disparou contra os turistas, estava fechado durante o dia por ordens da gerência. Para ir à praia, era preciso contornar alguns quarteirões. Policiais percorriam o local a cavalo.

A alemã aposentada Andrea, que vive na cidade há cinco anos, pedia informações a pescadores que afirmavam ter testemunhado o ataque. "Quando ouvi as notícias, tranquilizei minha família pela internet", disse.

O pescador Moaz Arfa, 48, narrou o episódio à reportagem enquanto delicadamente perfurava uma minhoca com o anzol. "Eu estava pescando quando ouvi disparos. Pensei que fossem os funcionários de entretenimento do hotel. Então as pessoas começaram a correr", afirmou.

O governo anunciou uma série de medidas para reforçar a segurança no país, principalmente em locais turísticos. Essa indústria é parte importante da economia do país. Mas, turistas deixando a Tunísia ou cancelando suas visitas, a perspectiva para esses meses é ruim.

"Olhe ao redor", disse o pescador Khaled Freje, 19, à Folha. Ele apontava para a praia vazia, nos arredores do local do atentado. "É assim que vai ser nos próximos meses. O verão foi embora."


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