Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Recado da Otan à Rússia é que 'Báltico não é o leste da Ucrânia'

Dois B-52, gigantescos bombardeiros criados nos anos 1950 para levar o holocausto nuclear à União Soviética e ainda na ativa, atacaram posições em território que pertencia ao Kremlin há quase um quarto de século –e a menos de 300 km da Rússia de Vladimir Putin.

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Foi só uma simulação dentro do grande exercício que a Otan realizou neste mês na Letônia, antiga república soviética e principal lar de russos étnicos no Báltico. Mas a simbologia não é pequena.

O Ocidente decidiu jogar sob as regras de Putin. Subiu a aposta para lembrar que a vulnerável trinca de Estados Bálticos está sob seu guarda-chuva militar.

O recado é claro: ali não é a Ucrânia, que perdeu a Crimeia e vive uma guerra surda no seu leste pró-russo.

Putin sabe disso, e é várias coisas, mas não louco: um ataque a um membro da Otan significaria algo indizível, confronto direto com os EUA.

Mesmo assim assistimos a uma preocupante militarização da região, com o reforço prometido pela Otan e a resposta russa na forma de um suposto incremento em sua capacidade nuclear e com a provável cessão de uma base aérea da vizinha Belarus.

Mais: o encrave russo de Kaliningrado, ao sul da Lituânia, vem sendo militarizado com mísseis de alta precisão.

Os voos às escuras de caças e bombardeiros de Moscou têm se intensificado não só sobre o Báltico, mas em pontos como o Canal da Mancha.

A volatilidade de um ambiente com tantas armas e um longo histórico de desconfiança mútua gera o risco de algum tipo de acidente.

Na Guerra Fria, a ameaça estava presente, mas a consciência do que viria depois era tão aguda que canais de comunicação eram azeitados para evitar uma escalada.

Hoje, é consenso entre analistas que tais contatos estão muito prejudicados.

Isso, associado à retórica belicista de generais da Otan buscando mais verbas e governantes do Leste Europeu com o justificável medo de Putin, só deve fazer aumentar a tensão nos próximos meses.


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