Folha de S. Paulo


Venezuela fecha estrada onde passaria comitiva brasileira

O veículo que transportava uma comitiva de senadores brasileiros, que viajaram nesta quinta-feira (18) a Caracas com o plano de se reunir com opositores do governo, ficou parado na saída do aeroporto Simón Bolívar por causa de um bloqueio policial em uma estrada próxima.

Como o veículo não conseguiu passar de uma alça de acesso à estrada que leva a Caracas, a comitiva de senadores decidiu voltar ao aeroporto para aguardar a liberação da via no estacionamento de um anexo do local.

Depois de quase seis horas de espera, a comitiva embarcou de volta ao Brasil às 17h45 locais (19h15 de Brasília).

À reportagem da Folha, um dos agentes da Polícia Nacional Bolivariana admitiu haver uma ação orquestrada para bloquear a passagem do veículo.

"É evidente que é uma sabotagem. Quando vem uma autoridade estrangeira, nós os escoltamos em fluxo, contrafluxo ou em qualquer circunstância", afirmou sem se identificar, dando a entender que a escolta poderia passar por qualquer eventual bloqueio.

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A delegação, que viajou a bordo de um avião da FAB, foi comandada por Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Em Caracas, a comitiva foi recebida por Lilian Tintori (esposa de Leopoldo López ), Mitzy Capriles (esposa de Antonio Ledezma, prefeito de Caracas), Patricia de Ceballos (esposa de Daniel Ceballos ) e a deputada cassada María Corina Machado.

Ao tentar sair do aeroporto, o micro-ônibus com os senadores foi cercado por dezenas de partidários do governo, muitos dos quais vestidos de vermelho, que bateram no veículo gritando: "Chávez não morreu, se multiplicou", referindo-se ao ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013.

"Várias dezenas de manifestantes violentos bateram nos vidros e na lataria do veículo sem que houvesse segurança que pudesse minimamente dar tranquilidade. Ficamos tentando falar com o embaixador e [ficamos] sem qualquer contato com o governo, em um momento em que nossa segurança não estava garantida", disse Aécio.

Já o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que "eles [manifestantes] foram claramente pagos pelo governo".

O protesto causou tensão dentro do micro-ônibus onde estava a comitiva. Segundo relatos, Lilian Tintori entrou em pânico, por medo de ser reconhecida pelos agressores. Os outros passageiros a orientaram a abaixar a cabeça e se esconder atrás do banco.

Também integraram a comitiva José Agripino (DEM), Ronaldo Caiado (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB), José Medeiros (PPS) e Sérgio Petecão (PSD). "Não conseguimos sair do aeroporto. Sitiaram o nosso ônibus, bateram, tentaram quebrá-lo", disse Caiado.

Após falar ao telefone com os senadores, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que cobraria da presidente Dilma Rousseff uma posição de repúdio do governo brasileiro às agressões.

Dilma convocou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para uma reunião imediata no Palácio do Planalto para tratar da situação.

BLOQUEIO

Inicialmente, membros da escolta dos senadores disseram que o bloqueio na estrada se devia ao traslado de um prisioneiro extraditado da Colômbia.

Posteriormente, María Corina Machado informou, pelo Twitter, que os túneis da estrada Caracas-La Guaira, por onde passaria a comitiva, estavam passando por limpeza desde a manhã.

O senador Cunha Lima criticou a posição do embaixador, Ruy Pereira: "Ele não fez o que se espera de uma assistência institucional. Lavou as mãos".

De acordo com os senadores, a embaixada informou que tentou contato com a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, mas foi comunicada que ela estava em uma reunião de governo.

Para o Aécio, é difícil imaginar que os acontecimentos desta quinta não tenham tido conivência das autoridades locais.

"Nós fomos sitiados e impedidos de cumprir o objetivo da nossa missão. Isto é um claro incidente diplomático, e vamos exigir que a presidente Dilma convoque para consultas o embaixador em Caracas e tome outras providências cabíveis diante dessa situação lamentável", afirmou.

AGENDA FRUSTRADA

A previsão era que, após saírem do aeroporto, os senadores seguissem direto até o presídio de Ramo Verde, nos arredores da capital, onde tentariam visitar López, detido há mais de ano por instigar violentos protestos contra o presidente socialista Nicolás Maduro, em 2014.

"Criaram um transtorno em toda a cidade com o objetivo de impedir que chegássemos à prisão de Ramos Verde", disse o senador mineiro.

Assista ao vídeo de Aécio apresentando o objetivo da viagem:

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Durante a tarde, os senadores planejavam almoçar com representantes da MUD, principal coalizão opositora, e manter reuniões com parentes de estudantes presos por envolvimento nas manifestações do ano passado.

Também estava prevista uma visita ao prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, que está em prisão domiciliar.

Para se contrapor à presença dos senadores, o governo venezuelano convidou um grupo de brasileiros militantes de esquerda e membros de sindicatos, que cumpre agenda de encontros e aparições na mídia estatal.


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