Folha de S. Paulo


Hillary lembra mãe durante discurso em que lançou sua candidatura

Sob o sol forte de Nova York, a ex-primeira-dama e ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, lançou oficialmente sua pré-candidatura à Presidência dos Estados Unidos neste sábado (13).

Com referências à sua família, em especial à história de superação da mãe, ela tentou vender a imagem de defensora da classe média americana -sua principal plataforma nesta eleição.

"É o pacto básico dos Estados Unidos: se você fizer a sua parte, você tem que poder avançar. E quanto todos fazem a sua parte, o país também avança", disse a uma plateia de milhares de apoiadores –5.500, segundo a organização– reunidos na ilha Franklin D. Roosevelt.

"Esse pacto inspirou diversas gerações de famílias americanas, incluindo a minha."

A ilha, a leste de Manhattan, não foi escolhida por acaso.

O evento foi realizado no parque Four Freedoms (Quatro Liberdades, em tradução literal), batizado em homenagem a um discurso do ex-presidente Roosevelt, feito em 1941.

No pronunciamento, ele ressaltou quatro princípios: liberdade de opinião, liberdade religiosa, liberdade de viver sem passar necessidades e liberdade de viver sem sentir medo.

A campanha de Hillary lista "quatro batalhas": fortalecer a economia, proteger as famílias, manter a liderança e a segurança dos EUA e manter a transparência no financiamento de campanhas políticas.

Logo no início do discurso, Hillary fez menção ao marido, Bill Clinton, e ao presidente Barack Obama -para quem perdeu as primárias democratas em 2008.

Os dois, assim como pensava o ex-presidente Roosevelt (1933-1945), acreditam na ideia de que "a prosperidade real e duradoura tem de ser construída e compartilhada por todos."

Ao falar do passado, no entanto, Hillary fez questão de ressaltar que os Estados Unidos enfrentam agora novos desafios.

"Não estamos em 1941, em 1993 ou em 2009", disse, citando os problemas que a classe média enfrenta ao sair da recessão econômica.

"Você deve estar se perguntando: 'Quando o meu esforço vai ser recompensado? Quando a minha família vai avançar?'. Eu digo: Agora."

"Vocês fizeram o nosso país voltar a crescer, agora é a sua hora. É por isso que estou concorrendo à Presidência", disse, bastante aplaudida.

Ao longo de todo o pronunciamento, Hillary distanciou-se dos pré-candidatos republicanos usando o argumento de que o partido de oposição está focado nos ricos e no passado.

"Eles dizem que o partido tem novas vozes na corrida presidencial, mas todos estão cantando a mesma canção. Ela se chama 'Ontem'", disse. "Eles acreditam em ontem", completou, parafraseando a famosa canção dos Beatles, "Yesterday" (ontem, em inglês).

FAVORITA

Hillary é a favorita para ser nomeada candidata do Partido Democrata às eleições em 2016.

O caminho para alcançar a vitória nas primárias, no início do próximo ano, parece bem mais tranquilo para ela do que para seu oponente republicano.

No partido de oposição, ao menos dez candidatos devem disputar a vaga.

Hillary precisa vencer a resistência dos americanos aos políticos tradicionais do país e a seu próprio antecessor, Barack Obama, cujo índice de aprovação está em 45%, segundo pesquisa do jornal "The Washington Post".

Além disso, precisa conquistar os eleitores que a veem como uma política de carreira, movida apenas pela ambição.

A preocupação de sua campanha em desfazer essa imagem ficou clara no discurso deste sábado.

Embora tenha ressaltado sua experiência em Washington como senadora, como primeira-dama e como chefe da diplomacia norte-americana, ela tratou de sua relação com a mãe, Dorothy Rodham (morta em 2011), ao longo de todo o discurso.

Abandonada pelos pais, Dorothy trabalhou como doméstica na juventude. "Eu já fui chamada de muitas coisas por muitas pessoas. 'Desistente' não é uma delas. E eu aprendi isso com a minha mãe", disse Hillary.

"Minha mãe me ensinou que todos precisam de uma chance e de um defensor. Ela sabia como era não ter nenhum dos dois", afirmou. "Eu quero ser a sua defensora."

De olho nas chamadas "minorias", ela ainda defendeu bandeiras antigas de sua carreira política, como os direitos da população LGBT e a igualdade de oportunidades para as mulheres.

Também mencionou a necessidade de uma reforma da imigração no país e as dificuldades enfrentadas pela população negra.

Ela respondeu com bom humor aos que a consideram velha demais para a Casa Branca.

VANTAGEM

"Todos os nossos presidentes tomam posse muito vigorosos e logo vemos seus cabelos ficarem mais brancos e mais brancos", disse.

"Tenho uma vantagem: ninguém verá meu cabelo embranquecer na Casa Branca. Tinjo há muitos anos!", ironizou.

Oponentes do partido Republicano lembram que, aos 69 anos, ela seria a segunda pessoa mais velha a se tornar presidente do país.

"Talvez eu não seja a candidata mais jovem na disputa, mas serei a mais jovem mulher a presidir os Estados Unidos", lembrou, brincando com o fato de que o país nunca elegeu uma mulher.

"E serei a primeira avó", afirmou. Sua primeira neta nasceu em setembro.

O único presidente a tomar posse com idade superior à que Hillary terá se vencer foi Ronald Reagan, eleito em 1980 aos 69 anos.


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