Folha de S. Paulo


Na Argentina, principal nome da oposição rejeita alianças eleitorais

Avesso à formação de uma aliança ampla da oposição para enfrentar o governo o nas eleições deste ano na Argentina, Maurício Macri (PRO) resiste a unir forças com a Frente Renovadora para concorrer à Presidência em 25 de outubro.

O terceiro colocado nas pesquisas, Sergio Massa, ex-prefeito de Tigre, já lhe ofereceu apoio, mas Macri diz não querer conversa. "[Massa] É uma alternativa dentro do Partido Justicialista [peronista], e pensamos em algo diferente", disse nesta quarta (3).

Mas essa rejeição parece restrita ao candidato. Nas bases, seus aliados trabalham para seduzir massistas que emigram para outras chapas, descontentes com o desempenho do candidato nas pesquisas eleitorais.

Em queda vertiginosa nas sondagens de intenção de voto, Massa tem perdido apoio político. Prefeitos de seu principal bastião eleitoral, a província de Buenos Aires, voaram nos últimos dias para o kirchnerismo ou para Macri.

Oscar Luciani, prefeito de Luján, cruzou a linha rumo ao PRO. Macri esteve nesta quarta-feira na cidade.

A cerca de 50 km da capital, Luján reúne alguns dos problemas mais citados pelos eleitores neste ano: violência, falta de emprego e insatisfação com a saúde.

Reduto peronista, a cidade é um território que Macri precisa conquistar para ser competitivo, assim como a província de Buenos Aites –quatro em cada dez eleitores, afinal, estão na região que circunda a capital.

CAMPAINHA

Ontem, como tem feito há dois meses, Macri visitou uma casa, conversou com moradores e tocou campainhas atrás de votos.

"Tudo bem vir aqui, mas aviso que não votarei em você", afirmou a tradutora Silvia Malpassi, 52.

Simpática ao principal partido opositor, a União Cívica Radical (que nesta eleição está com Macri), ela dá pistas de que prefere o peronista Daniel Scioli. "Ele vai se rodear de gente para manter o projeto da presidente", disse.

A eleitora ainda sugere que a mulher de Macri, Juliana Awada, cuja família tem uma grife, estaria vinculada com oficinas clandestinas que exploram mão de obra escrava.

Macri rejeita a acusação, agradece e segue a caminhada batendo em outras portas.

A Folha acompanhou a visita de Macri à casa de Débora e Fabián Valentino, que disseram ter convidado o candidato por uma rede social.

"Minha casa foi invadida três vezes nos últimos dois anos", queixa-se ela. Dois vizinhos sofreram o mesmo.

Mariana Carneiro/Folhapress
Maurício Macri abraça Antonia, 3, enquanto conversa com o casal Debora e Fabian Valentino
Maurício Macri abraça Antonia, 3, enquanto conversa com o casal Debora e Fabian Valentino

Ela trabalha informalmente como despachante e faz decoração para festas. Ele é supervisor de tesouraria na concessionária da rodovia que liga a cidade à capital.

"Não sou contra nem a favor dos benefícios sociais, mas não quero dar meu dinheiro para alguém que acorda às 11h da manhã enquanto eu me levanto às 5h", queixa-se a moradora, pedindo mudanças.

Macri é o candidato que vende a mudança na Argentina. Mas quando o tema é benefícios sociais, ele balança a cabeça e não faz críticas.

"Em 10 de dezembro [data da posse do novo presidente] vamos virar a página, criar condições para que as pessoas tenham ânimo e oportunidade de ter um emprego."

CORPO A CORPO

A pouco menos de quatro meses para as eleições, a campanha eleitoral dos candidatos à Presidência não está nas ruas de Buenos Aires.

A conquista de votos ocorre nas cidades do interior do país, que também elegem seus representantes neste ano.

Macri tem ido a campo em uma estratégia de corpo a corpo espontânea impensável na política brasileira. Ele toca a campainha e espera o eleitor, sem saber o que terá como resposta.

Nesta quarta (3), ele ouviu queixas com a situação do país e também recebeu apoios. Maria Ester, 76 anos, queixou-se da saúde. "Estamos a 50 km da capital e estamos esquecidos", disse.

Acompanhado de sua candidata ao governo da província de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, Macri concorda que faltam recursos e promete aumentar os investimentos.

Mas a reclamação mais frequente na região é a insegurança. "Não abri a porta porque estava com medo", disse Rosana Picabea, indo atrás da comitiva.


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