Folha de S. Paulo


Netanyahu divide Ministério das Relações Exteriores entre aliados

Israel se transformou, na prática, em um país com seis chanceleres.

Após formar seu novo governo dois meses depois das eleições gerais de março, o premiê Binyamin Netanyahu manteve o cargo de ministro das Relações Exteriores para si e fragmentou em níveis inéditos os poderes da pasta entre cinco outros ministros.

A divisão tem causado confusão entre diplomatas locais e estrangeiros, que não sabem a quem se dirigir.

Para alguns, trata-se de uma maneira de distribuir cargos a aliados do partido governista Likud sem dar poder mais amplo a nenhum deles.

Para outros, é uma estratégia para desorientar a comunidade internacional quanto a questões como a negociação de paz com os palestinos.

Na terça-feira (26), Netanyahu afirmou, em encontro com a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, que ainda está comprometido com a solução de "dois Estados para dois povos", sugerindo a volta de negociações com os palestinos.

Dan Balilty - 20.mai.2015/Efe
A chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, em encontro com Binyamin Netanyahu em Jerusalém, no dia 20
A chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, em encontro com Binyamin Netanyahu em Jerusalém, no dia 20

A afirmação foi depois de a nova vice-ministra do Exterior, a ultranacionalista Tzipi Hotovely, afirmar, citando textos bíblicos, que a região pertence apenas aos judeus.

"Hotovely representa o contrário de tudo o que a maior parte do mundo, inclusive os EUA, quer ver em Israel", diz o jornalista do jornal "The Jerusalem Post" Herb Keinon, para quem a nomeação envia "sinais desencontrados" à comunidade global.

Além de Netanyahu e Hotovely, outros quatro ministros lidam com o relacionamento internacional.

As relações com os EUA ficaram a cargo de Silvan Shalom, novo ministro do Interior, que também cuida de eventuais negociações com os palestinos.

Outro "chanceler" israelense é o ministro da Infraestrutura, Yuval Steinitz, braço-direito de Netanyahu, encarregado de questões sobre o programa nuclear iraniano.

A mais recente nomeação foi a do número 2 do Likud, Gilad Erdan, que só aceitou o Ministério da Segurança Pública caso recebesse também o efêmero posto de "Ministro para Assuntos Estratégicos" e responsável pela "Hasbará" ("Explicação"), que cuida das reações de Israel a boicotes internacionais.

Editoria de arte/Folhapress

CLIMA RUIM

"Isso tudo causa sensações ruins internamente. Enfraquece o ministério e pesa no clima de trabalho. Fica difícil realizar um trabalho diplomático real e constante quando um cargo desses vira um jogo político", disse à Folha uma fonte da Chancelaria.

O próprio Gilad Erdan admitiu que não concorda com essa divisão e confirmou os boatos de que Netanyahu estaria "guardando" o cargo de ministro do Exterior com plenos poderes para o líder da oposição, Yitzhak "Buji" Herzog, do Partido Trabalhista, a quem tenta atrair para sua estreita coalizão.

Hoje, o premiê conta com o número mínimo de 61 dos 120 parlamentares do Knesset (o Parlamento israelense).

Uma aliança com Herzog diminuiria o caráter direitista e ultranacionalista do governo, tornando-o mais palatável em termos de diplomacia internacional. Por ora, Herzog não só rejeita a ideia como critica Netanyahu pelo que chamou de "dança das cadeiras" ministeriais.

"A recusa de Netanyahu em apontar um ministro em tempo integral é um indício de que ele está segurando o cargo para alguém que ele tem esperança de ter no governo", analisa o jornalista Keinon.

Desde que Netanyahu subiu ao cargo, em 2009, a chancelaria é um problema. Após nomear seu ex-aliado Avigdor Lieberman, do partido ultranacionalista Israel Nossa Casa, o premiê passou a temer que a fama de linha-dura do novo chanceler prejudicasse a imagem do país.

Decidiu, então, que Lieberman, que rompeu com o governo e renunciou no último dia 4, só atuaria na Europa Oriental, África e Ásia, enquanto o então presidente Shimon Peres, visto como pacifista no Ocidente, se dirigiria às Américas e à Europa.


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