Folha de S. Paulo


Matemático John Nash, que inspirou filme "Mente Brilhante", morre em acidente de táxi

O matemático John Nash morreu neste sábado (23), aos 86 anos, em um acidente de táxi em Nova Jersey, nos EUA. Nash é vencedor do Prêmio Nobel de Economia e teve sua vida retratada nos cinemas no filme "Uma Mente Brilhante".

Nash estava no carro com sua mulher, Alicia, 82, que também morreu. Segundo o sargento Gregory Williams, porta-voz da polícia de Nova Jersey, o motorista do táxi que levava o casal perdeu o controle do veículo ao tentar ultrapassar outro carro em uma estrada e colidiu contra uma barreira de segurança.

Williams disse ainda que Nash e Alicia foram ejetados do carro e morreram no local. Os motoristas do táxi e do outro veículo foram resgatados e não correm risco de morte. Ele disse que não há uma acusação criminal até o momento.

Fred Prouser/Reuters
John Forbes Nash e sua mulher, Alicia, na cerimônia do Oscar de 2002, quando obra retratando sua vida ganhou prêmio de melhor filme
John Forbes Nash e sua mulher, Alicia, na cerimônia do Oscar de 2002, quando obra retratando sua vida ganhou prêmio de melhor filme

DESCOBERTAS E A ESQUIZOFRENIA

Nash nasceu em 13 de junho de 1928, em Bluefield, na Virgínia Ocidental. Seu pai era engenheiro eletricista e sua mãe, uma professora de inglês de colégio que abandonou a carreira após o casamento. Ele tem uma irmã, Martha, de 85 anos.

O Nobel relata em sua autobiografia no site do prêmio que chegou a prestar curso de engenharia química, mas foi convencido pela Faculdade de Carnegie a mudar para o campo da matemática, área na qual excedia desde os tempos do colégio. "Eles me explicaram que não era quase impossível ter uma boa carreira em matemática nos EUA", escreve Nash.

Foi na época da faculdade que ele começou a desenvolver suas ideias em teoria dos jogos não cooperativos e a matemática por trás do processo de decisão, conhecida como equilíbrio de Nash, que lhe rendeu o prêmio máximo da economia junto a John C. Harsanyi e Reinhard Selten, em 1994. A teoria, publicada pela primeira vez em 1950, forneceu uma ferramenta matemática para analisar situações competitivas e foi aplicada não só a economia, mas ciências sociais e biologia.

Matemático tido como um dos mais brilhantes do século 20, Nash se dedicou aos mais difíceis problemas de seu campo, com um pensamento original. Outra de suas grandes descobertas foi na área de geometria diferencial, na qual solucionou um problema derivado do trabalho de um matemático do século 19, G.F.B. Riemann.

Ele passou pelas mais prestigiosas universidades americanas, como o MIT, onde conheceu Alicia, aluna de física nascida em El Salvador com quem se casaria em 1956.

Três anos depois, a vida de Nash mudou completamente. Em 1959, ele foi diagnosticado com esquizofrenia paranoica no que o próprio Nash classifica como "a época da minha mudança do pensamento científico racional para o pensamento delirante característico das pessoas psiquiatricamente diagnosticadas [com a doença]".

Ele conta os primeiros sintomas surgiram no começo daquele ano, quando Alicia estava grávida de John Charles Martin Nash, único filho do casal. Nash então abriu mão de seu cargo no MIT e, após 50 dias internado em um hospital sob observação, viajou para a Europa "para tentar ganhar status de refugiado".

O matemático conta que, de volta a Nova Jersey, passou diversos períodos, que chegavam de cinco a até oito meses, em hospitais do Estado, sempre internado contra sua vontade.

Após o longo tratamento, Nash conseguiu controlar os sintomas da doença e retomar a carreira de pesquisador em matemática, alcançando conquistas importantes, incluindo solução de problemas tidos, até então, como insolúveis na área.

No fim dos anos 60, conta o matemático, ele voltou a sofrer com os sintomas delirantes da esquizofrenia, mas de forma não tão intensa, o que permitiu que evitasse as internações. Ele relata que lutou para combater o pensamento esquizofrênico para que pudesse focar na racionalidade de seu trabalho científico.

Nash e Alicia encabeçaram diversas campanha de conscientização sobre a doença.

NOS CINEMAS

Sua vida, principalmente a batalha contra a esquizofrenia e paranoia, foi retratada por Russell Crowe no drama de 2001 "Uma Mente Brilhante", que ganhou quatro Oscars, incluindo o de melhor filme.

Divulgação
Russel Crowe no papel de John Nash, em
Russel Crowe no papel de John Nash, em "Uma Mente Brilhante", que venceu quatro Oscars

O ator lamentou a morte de Nash em seu perfil no Twitter. "Chocado... Meu coração está com John, Alicia e a família. Uma parceria incrível. Belas mentes, belos corações", escreveu.

Os Nash viviam em Princeton, em Nova Jersey, onde Nash era pesquisador na área de matemática da prestigiosa Universidade de Princeton. O presidente da entidade afirmou que "as conquistas memoráveis" de Nash inspiraram gerações de matemáticos, economistas e cientistas, inspirados por seu trabalho "brilhante" em teoria dos jogos.

Christopher Eisgruber disse ainda que a história de Nash e Alicia "tocaram milhões de leitores e telespectadores que se encantaram com sua coragem diante de desafios tão grandes".

Nash e Louis Nirenberg receberam em 25 de março passado o prêmio Abel de Matemática por seu trabalho em equações diferenciais parciais.

Russel Crowe


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