Folha de S. Paulo


Irlandeses aprovam casamento gay com 62% dos votos em referendo

A Irlanda aprovou a legalização do casamento gay em referendo realizado nesta sexta-feira (22). Com apuração concluída neste sábado (23) nas 43 regiões eleitorais do país, 62% dos eleitores votaram "sim", ante 37% que optaram pelo 'não'.

A participação da população irlandesa, majoritariamente católica, na votação chegou a 60%, segundo o jornal "Irish Times".

Os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Irlanda celebraram o resultado antes mesmo da divulgação dos números oficiais. A esplanada do Castelo de Dublin, que já foi a residência dos governantes britânicos e sempre foi um símbolo do poder, ficou lotada de partidários do "sim", em um clima de festa. Veja fotos

"É fantástico ser irlandês", disse Rory O'Neill, que usa o nome artístico "Panti Bliss", a drag queen mais famosa da Irlanda e um dos líderes da campanha a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

"É histórico, somos o primeiro país do mundo a votar a favor da igualdade no matrimônio em um referendo", disse o ministro da Saúde, Leo Varadkar. "É uma revolução cultural", completou, em referência à forte tradição católica do país (a religião é seguida por 85% da população), onde a homossexualidade só deixou de ser considerada crime em 1993.

Na entrada do principal local de apuração de votos em Dublin, duas mulheres, Grainne O'Grady, 44, e Pauline Tracey, 53, afirmaram que planejavam apenas "celebrar, celebrar e celebrar".

"Eu poderia explodir de tanta felicidade. O que estava em jogo era se nós somos iguais em nosso próprio país", disse O'Grady, enquanto Tracey declarou que está "muito orgulhosa".

Na sexta-feira (22), mais de 3,2 milhões de irlandeses estavam registrados para votar a favor ou contra uma emenda constitucional que contempla que "o matrimônio pode ser contratado de acordo com a lei por duas pessoas, sem distinção de sexo".

A mudança constitucional votada nesta sexta já havia sido aprovada pelo Parlamento irlandês em março. A imprensa local antecipara um índice alto de participação, em particular nas grandes cidades.

Para Colm O'Gorman, da Anistia Internacional, a vitória do "sim" "constitui uma mensagem extraordinária de esperança à comunidade homossexual e transexual, vítima da perseguição em todo o mundo".

O "sim" foi defendido por todos os principais partidos políticos irlandeses, incluindo o Fine Gael do primeiro-ministro Enda Kenny. Os defensores da reforma constitucional receberam o apoio de várias celebridades, como o cantor Bono, do grupo U2, e o ator Colin Farrell.

NOVO PAÍS

Do lado do "não", a Igreja Católica de Irlanda e os conservadores defenderam que o matrimônio deveria seguir exclusivo para a união entre um homem e uma mulher.

"Houve uma impressionante vitória do 'sim'", disse David Quinn, diretor do Instituto Iona, grupo católico contrário à aprovação. Quinn criticou o fato de nenhum partido ter apoiado o "não" e disse ter dado voz a "centenas de milhares" de irlandeses contrários à medida.

"Estamos em um novo país", disse à agência Associated Press o comentarista político Sean Donnelly, na ativa desde os anos 1970. "Na época em que eu fui criado, a igreja era todo-poderosa e nem se usava a palavra 'gay'."


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